Como revisitar a ideologia colonial de há 100 anos? A resposta de A Cidade Perdida de Z tem tanto de académico como de sugestivo — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (27 Abril).
Eis uma evocação plena de sugestões simbólicas e, na verdade, de envolvente dimensão utopista — A Cidade Perdida de Z, de James Gray, é mesmo um épico pouco comum nestes tempos de blockbusters inter-galácticos. Nas primeiras décadas do século XX, a saga do britânico Percy Fawcett, procurando uma civilização ignorada no coração da Amazónia, corresponde, afinal, a uma conjuntura histórica em que a Europa colonialista se redime na revelação de “novos mundos”.
O caso de Fawcett é tanto mais revelador quanto o seu discurso envolve uma crença absoluta nas possibilidades de uma aproximação científica contaminada pelo mais cândido humanismo. A admirável direcção fotográfica de Darius Khondji ocupa, por isso, um lugar central nesta evocação, em todo o caso, algo presa das convenções mais ou menos televisivas da “reconstituição” histórica.