* THE GIFT - Altar
J.L. - "The Gift já não soam a The Gift".
Só o escrevo. Não fui eu que o disse, mas sim Brian Eno, produtor do magnífico Altar da banda de Alcobaça — e quem citou a frase foi Nuno Gonçalves no apurado e depurado concerto do CCB.
Que está em jogo, então? Uma espécie de tábua rasa, apenas porque a banda trabalhou com um génio da criação e produção musical? Será dessa maneira, por certo, que esta nova etapa de The Gift tenderá a ser descrita pelos preconceitos dos que os consideram demasiado in para fazer pose de out (ou talvez o contrário... já que nunca se sabe que novas revoluções musicais serão propaladas semana sim, semana sim).
O concerto pode servir de guia daquilo que está a acontecer — e insisto no tempo em aberto, evitando dizer apenas que "aconteceu". Da pureza pop de Big Fish ao assombramento expressionista (!) de Love Without Violins, Sónia Tavares, Nuno Gonçalves, Miguel Ribeiro e John Gonçalves movimentam-se no oceano das suas próprias tensões criativas. Por alguma razão o concerto se apresentou encenado por um jogo de luzes tão sofisticado quanto austero — tratava-se de ouvir as novas canções e compreender, afinal, que elas refazem um património de 20 anos, abrindo para um território em que The Gift vai cada vez mais soar a um ensemble tão singular na alegria da sua pesquisa como soou em meados da década de 90. Lição filosófica: voltar a tentar fazer o mesmo para se conseguir ser outro.
Aquilo que algumas almas mais apressadas talvez descartem como apenas "ligeiro" — ou, escândalo supremo, apenas pop — está enraizado numa arquitectura de sons e emoções que arrisca continuar à procura de um lugar de apaziguamento. E que Mr. Eno seja o arquitecto-mor, eis o saboroso escândalo — ou apenas a ordem natural das coisas.
Também por tudo isso, Mário Barreiros (bateria), Paulo Praça (guitarra, baixo e voz) e Israel Costa Pereira (guitarra e voz) não são "acompanhantes", mas cúmplices hiper-talentosos de uma celebração musical que, não receemos a contundência dos símbolos, chegou ao seu altar. Faz medo, claro. Mas é por isso que admiramos a cruzada de The Gift.
N.G. - Vitrais e uma luz pouco intrusiva serviram de cenário aos primeiros momentos daquela que estava ainda a ser para muitos a descoberta das canções de Altar, o novo álbum dos The Gift. E foi assim que começou a noite (bem) vivida no Grande Auditório do CCB, escutando os temas mais melancólicos do novo disco, sublinhando não só a capacidade da banda em levar ao palco uma cuidada transposição dos acontecimentos criados em estúdio, como sublinhando na vida em palco para You Will Be Queen, mais do que no encadeamento do alinhamento do disco, a força potencial de mais um single. Não foi por acaso que, ao escutá-la (e esta, como contou Nuno Gonçalves, estava já na carteira dos temas compostos desde os tempos de Explode), Brian Eno lhes terá dito que, naquele tema em concreto, “já lá estava tudo” e que só faltava fazer com que, daqui a 20 anos, ele fosse cantado num karaoke no Japão...
Depois de alguns anos a viver o díptico Explode/Primavera e um alinhamento de memórias que assinalou os 20 anos de carreira da banda era chegada a altura de injetar um novo repertório em palco. E as dez canções de Altar fazem o prato principal desejado, mostrando-se Malifest um momento de puro festim dançável, confirmando Big Fish como um clássico bem nascido (e com pernas para correr ao longo deste verão) e em Love Without Violins o momento central desta nova aventura.
Na hora de revisitar memórias as escolhas reincidiram mais por recordações recentes do que por evocações dos primeiros tempos. De Explode ouviu-se quer a versão completa de The Singles quer (o bem eficaz em palco) RGB. De AM/FM ouviu-se Music. Em português cantou-se Primavera e Clássico. E, para mergulhar por um momento em escolhas menos esperadas, um (belíssimo) The Difference Between Us, dos tempos de Film, que foi na verdade o mais saboroso de todos estes episódios. Bom alinhamento! E com banda que não esconde os quilómetros de estrada que já correu.
N.G. - Vitrais e uma luz pouco intrusiva serviram de cenário aos primeiros momentos daquela que estava ainda a ser para muitos a descoberta das canções de Altar, o novo álbum dos The Gift. E foi assim que começou a noite (bem) vivida no Grande Auditório do CCB, escutando os temas mais melancólicos do novo disco, sublinhando não só a capacidade da banda em levar ao palco uma cuidada transposição dos acontecimentos criados em estúdio, como sublinhando na vida em palco para You Will Be Queen, mais do que no encadeamento do alinhamento do disco, a força potencial de mais um single. Não foi por acaso que, ao escutá-la (e esta, como contou Nuno Gonçalves, estava já na carteira dos temas compostos desde os tempos de Explode), Brian Eno lhes terá dito que, naquele tema em concreto, “já lá estava tudo” e que só faltava fazer com que, daqui a 20 anos, ele fosse cantado num karaoke no Japão...
Depois de alguns anos a viver o díptico Explode/Primavera e um alinhamento de memórias que assinalou os 20 anos de carreira da banda era chegada a altura de injetar um novo repertório em palco. E as dez canções de Altar fazem o prato principal desejado, mostrando-se Malifest um momento de puro festim dançável, confirmando Big Fish como um clássico bem nascido (e com pernas para correr ao longo deste verão) e em Love Without Violins o momento central desta nova aventura.
Na hora de revisitar memórias as escolhas reincidiram mais por recordações recentes do que por evocações dos primeiros tempos. De Explode ouviu-se quer a versão completa de The Singles quer (o bem eficaz em palco) RGB. De AM/FM ouviu-se Music. Em português cantou-se Primavera e Clássico. E, para mergulhar por um momento em escolhas menos esperadas, um (belíssimo) The Difference Between Us, dos tempos de Film, que foi na verdade o mais saboroso de todos estes episódios. Bom alinhamento! E com banda que não esconde os quilómetros de estrada que já correu.