domingo, março 05, 2017

Sporting: quem ganhou as eleições?

PABLO PICASSO
Mulher a chorar
1937
A. ... se o leitor começou a ler este texto esperando encontrar qualquer reflexão (?) sobre o acto eleitoral do Sporting, seus temas e candidatos, devo avisá-lo que as linhas que se seguem não o vão interessar — podem até suscitar a sua indignação.

B. Feito este aviso, a pergunta é: como ficarmos indiferentes à avalancha de informação (?) que ocupa a paisagem mediática — com inevitável destaque para o espaço televisivo — sempre que alguém dos chamados clubes "grandes" (Benfica, Porto, Sporting) dá um espirro ou profere um impropério mais ou menos caricato? Como é possível que, em nome do jornalismo, as palavras e comportamentos dos protagonistas do futebol — sobretudo quando envolvem ou instigam algum sinal de conflitualidade — se tenham transformado em matéria obrigatória e, mais do que isso, dominante das notícias? Será que todos nós, a começar pelos jornalistas que somos, temos consciência da imensidão de pessoas e acontecimentos, importantes para o mundo em que vivemos, que nem sequer chegam às notícias? Porque é que temos de viver o dia a dia como se o futebol fosse o padrão único, unívoco e unilateral de toda a nossa existência?

C. Nesta perspectiva, seria sempre irrelevante saber quem ganhou as eleições no Sporting. Se conseguirmos sentir e pensar para além do aparato futebolístico-mediático, poderemos até reconhecer que já sabíamos quem iria perder. Quem? O cidadão comum — cada um de nós, compelido a não ver, conhecer e pensar para além do futebol, esse jogo admirável que vive anulado pelo imaginário bélico das notícias.