terça-feira, março 14, 2017

Neruda por Larraín

Depois de termos visto Jackie, o notável Pablo Larraín reaparece com Neruda, outra "biografia" de muitas ambiguidades — esta nota foi publicada no Diário de Notícias (9 Março).

É provável que alguns espectadores vejam Neruda, o retrato de Pablo Neruda (1904-1973) assinado pelo chileno Pablo Larraín, como uma nova derivação do seu gosto biográfico patente em Jackie, o filme com Natalie Portman sobre Jacqueline Kennedy. Na verdade, Neruda é anterior, tendo sido revelado o ano passado, em Cannes.
Tal como em Jackie, o impulso biográfico surge condensado em alguns eventos muito particulares: seguimos a actividade política do poeta (Luis Gnecco) a partir da vigilância de um inspector da polícia (Gael García Bernal) que, com uma surpresa de algum modo partilhada com o espectador, descobre em Neruda as marcas de uma sensibilidade nacional que não é de todo estranha à sua visão do mundo. Evitando esquematizar as personagens, Larraín volta a deslumbrar-nos com as contradições internas do fluxo histórico.