segunda-feira, janeiro 30, 2017

Rui Santana Brito — uma memória

[Cinemateca]
A notícia da morte de Rui Santana Brito (1944-2017) relança-me, necessariamente, na memória da Cinemateca do começo da década de 80. Tal como o Rui, pertenci ao grupo de pessoas que, ao longo dessa década, teve o privilégio de participar na definição e consolidação da Cinemateca na Rua Barata Salgueiro — ainda com Félix Ribeiro na direcção, depois com Luís de Pina e João Bénard da Costa.
Face à frieza implacável da notícia e às emoções que arrasta, gostaria apenas de deixar um nota, uma espécie de esquemático "cartão de cidadão" do Rui. Ele distinguiu-se sempre como um genuíno e muito primitivo cinéfilo (nesta coisas, a genuinidade implica uma obstinada postura ancestral). Ou seja: identificar, organizar, arquivar não eram, para ele, banais tarefas de acumulação. Tratava-se — trata-se sempre — de construir um edifício de referências e objectos que nos levem a compreender e respeitar o cinema como história.
Nestes tempos tristes, em que a velocidade da televisão tende a obliterar o simples gosto de conhecer, essa é uma herança fundamental: conhecer os filmes envolve a disponibilidade para sentir como o presente em que sempre os encontramos é feito de muitas camadas de muitos passados e, não tenhamos dúvidas, de outros tantos futuros que só podemos pressentir. Para além de qualquer definição profissional, o Rui era um nobre espectador — saber ver e escutar, eis a questão.