A ironia dos Oscars pode ser muito cruel.
Por um lado, o filme de Damien Chazelle, La La Land, evoca a terra (land) no seu título, embora o sedutor maniqueísmo da sua performance musical (la la) o afaste, ingloriamente, de qualquer enraizamento material. Em boa verdade, a Los Angeles de Chazelle é uma ilusão conceptual que vive apenas da invocação de referências como Rebel Without a Cause (1955) e do seu emblemático Observatório Griffith — o balanço são 14 nomeações para o pós-modernismo a canibalizar, com alegria (?), as suas mais coloridas fraquezas.
Por outro lado, Silêncio, de Martin Scorsese, um exercício em que a afirmação da transcendência (cristã e ocidental) se confronta com a crueldade de uma outra terra (Japão), fica tratado como uma derivação "estilística" — uma-nomeação-uma para a direcção fotográfica de Rodrigo Prieto.
Enfim, um panorama desconcertante (e interessante), que vale a pena seguir nas suas implicações cinéfilas e simbólicas. Para já, os nove nomeados para melhor filme são:
* ARRIVAL / O Primeiro Encontro
* FENCES / Vedações
* HACKSAW RIDGE / O Herói de Hacksaw Ridge
* HELL OR HIGH WATER / Custe o que Custar
* HIDDEN FIGURES / Elementos Secretos
* LA LA LAND / Melodia de Amor
* LION / A Longa Estrada para Casa
* MANCHESTER BY THE SEA / Manchester by the Sea
* MOONLIGHT / Moonlight
* 14: LA LA LAND
* 8: ARRIVAL + MOONLIGHT
* 6: HACKSAW RIDGE + LION + MANCHESTER BY THE SEA
* 4: FENCES + HELL OR HIGH WATER
* 3 HIDDEN FIGURES + JACKIE
* 3 HIDDEN FIGURES + JACKIE