Subitamente, com assinatura de Robert Zemeckis, um grande retorno aos valores do melodrama de guerra — este texto foi publicado no Diário de Notícias (30 Novembro), com o título 'Melodrama de guerra renasce com Brad Pitt e Marion Cotillard'.
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Será, porventura, desconcertante encontrar um cineasta como Zemeckis, tido como mago dos efeitos especiais, a assinar um tão depurado melodrama de guerra. Afinal de contas, além de responsável pela trilogia Regresso ao Futuro (1985, 1989, 1990), ele é também autor de um título como Quem Tramou Roger Rabbit? (1988), marcante na evolução da manipulação das imagens.
Mas não simplifiquemos: o fôlego romanesco de Aliados não pode ser separado de um conceito de espectáculo “maior que a vida” em que, justamente, a aplicação de sofisticados recursos técnicos é também essencial no envolvimento e sedução do espectador. Para nos ficarmos por um exemplo esclarecedor, repare-se no espantoso plano de abertura do filme, com a paisagem desértica, os pés de Max a entrarem lentamente na zona superior da imagem, seguindo-se a revelação do seu pára-quedas e a elegante queda nas dunas — não tem nada a ver com naves ruidosas ou monstros ameaçadores, mas tal plano é, em si mesmo, uma extraordinária proeza de efeitos especiais.
Com Aliados, Zemeckis realizou um filme esplendorosamente fora de moda e é muito provável que esteja a ser comercialmente penalizado por isso mesmo: nos EUA, arrancou com receitas modestas, acumulando no primeiro fim de semana pouco mais de 12 milhões de dólares (média/ecrã: 4 mil), em claro contraste com a nova produção Disney, Vaiana, que facturou 56 milhões (média/ecrã: 14 mil).
Mesmo as especulações grosseiras de alguns meios de comunicação, sugerindo que Marion Cotillard poderia ter algo a ver com a recente separação de Brad Pitt e Angelina Jolie, não produziram qualquer efeito “comercial”. Aliás, com suave contundência, Cotillard respondeu a tais especulações quando entrevistada por Matt Lauer no programa televisivo “Today” (NBC): “Nunca encaro de forma pessoal as notícias que não têm a ver comigo”.
Em todo este contexto, o mais insólito, e também o mais fascinante, é o anacronismo de uma produção como Aliados. Assim, no ano de 2016, quando Hollywood se consagra através de títulos como Star Trek: Além do Universo, À Procura de Dory ou Doutor Estranho, o veterano Zemeckis mobiliza duas grandes estrelas para fazer um filme apostado em revitalizar a mais pura herança clássica. Dir-se-ia uma experiência de vanguarda.