Passaram cinco anos desde que a estreia em álbum de Nicolas Jaar, com o promissor Space is Only Noise, o revelava como força criativa a ter em conta no mapa da linha da frente da invenção da música eletrónica. O regresso com um segundo álbum em nome próprio, transforma a promessa numa absoluta certeza. E junta à sua obra – e ao panorama atual – um disco que joga além das fronteiras dos géneros e dos temas, mostrando como a invenção eletrónica transcendeu já em muito os debates de identidade que em tempos possam ter sido levantados, revelando Sirens uma música que tanto é descendente das vivências que estas ferramentas e formas foram vivendo nos terrenos da pop e da música de dança, como reflete heranças de um espaço de experimentação com sons, texturas e elementos que tem necessariamente por origem genética algumas das visões que Stockahusen e outros seus contemporâneos trilharam ao investigar as qualidades e possibildades musicais que o mundo ao seu redor lhes dava como matéria prima numa idade em que novas máquinas entraram em cena ao serviço da composição, moldagem e gravação de sons.
De origem chilena, residente em Nova Iorque, Nicolas Jaar não esteve em silêncio nos últimos anos, tendo ora trabalhado diálogos entre música e imagem (seja na banda sonora de Dheepan de Jaques Audiard ou na criação de uma música alternativa para A Cor da Romã, de Serguei Paradjanov), ora colaborado com outros músicos, entre eles Dave Harrington, com quem formou os Darkside.
Sirens assinala o regresso a uma criação a solo, num disco que parte de uma construção de espaço para, sobre ela, ora fazer emergir cativantes canções ou peças instrumentais de formas menos evidentes, por entre os temas afirmando-se, além do esteta, uma voz poética que aqui abre mesmo espaço a ecos de uma consciência política com leitura na história chilena recente.