Eis a questão central, exemplarmente condensada na manchete do New York Times, poucos minutos depois de ter terminado o terceiro e último debate televisivo entre Hillary Clinton e Donald Trump. A saber: "Trump não diz se aceitará os resultados das eleições".
Estamos perante um verdadeiro e inquietante oxímoro: por um lado, Trump apresenta-se em nome de um direito que a democracia lhe confere, implicitamente convocando as regras democráticas como a via certa para o triunfo do seu projecto presidencial; por outro lado, perante a hipótese de não ver as suas expectativas confirmadas (entenda-se: não ganhar), suspende o exercício da própria responsabilidade que o jogo democrático implica, recusando verbalizar o mais básico dever — o reconhecimento público dos resultados eleitorais. Dirigindo-se ao moderador, Chris Wallace (Fox News), Trump atreveu-se mesmo a ironizar sobre a sua rejeição, desde logo destacada pela CNN: "Vou mantê-lo em suspense".
Dito de outro modo: o truque televisivo da distracção pelo "divertimento" deixou de ser uma variação provocatória para passar a funcionar como um padrão de discurso. Donald Trump é o protótipo desse comportamento, por certo com um enorme efeito mimético para o futuro (ainda que não ganhe estas eleições). A BBC propõe mesmo uma avaliação das razões por que "os debates estão a ficar piores, não melhores".
PS - Aqui fica um registo das alegações finais de Clinton e Trump, seguido de um resumo do debate, proposto pelo New York Times.
PS - Aqui fica um registo das alegações finais de Clinton e Trump, seguido de um resumo do debate, proposto pelo New York Times.