Onde está, então, a grandeza da América segundo Donald Trump?
Subitamente, assistimos a uma avalanche de atribulações capazes de abalar, não apenas o candidato republicano, mas o próprio conceito de prática política que, nem que seja por omissão, legitima a sua presença na corrida eleitoral ao cargo de Presidente dos EUA:
— um video divulgado por The Washington Post veio revelar mais palavras ofensivas de Donald Trump sobre as mulheres;
— continua a crescer a lista de personalidades do Partido Republicano que retiraram o seu apoio à candidatura de Trump (John McCain e Arnold Schwarzenegger são dois dos nomes mais recentes a integrar essa lista);
— enfim, o próprio Trump veio pedir desculpa num video que "não desculpa" coisa nenhuma, como sublinha Maggie Haberman, no New York Times.
A simples existência deste video de "desculpas" de Trump é bem revelador do paradoxo em que, hoje em dia, se processa a circulação de informação. Assim, por um lado, o video relança Trump como personalidade mediática, quanto mais não seja porque há um automatismo de funcionamento (global, de facto) que lhe dá uma difusão imediata e gigantesca; por outro lado, dir-se-ia que já não registamos nada do que nos chega como informação, reconhecendo apenas a abstracção do seu "movimento" — situação absurda que, no site da CNN, é escalpelizada por Jeremy Diamond, lembrando que houve nada mais nada menos que outras 17 declarações de Trump, no mínimo chocantes, que não impediram os republicanos de lhe dar o seu apoio (apelou à interdição da entrada de muçulmanos nos EUA, sugeriu que a Rússia pirateasse o correio electrónico de Hillary Clinton, caucionou a violência contra os que protestavam nos seus comícios, etc.).
Em boa verdade, tudo isto acontece como se se tratasse apenas de avaliar como é que cada um, a começar por Trump e independentemente do seu discurso, resiste ou vai resistindo como personagem televisiva. Ainda assim, que Trump esteja a ser (re)discutido não tanto através das "boas" ou "más" imagens, mas por causa das suas palavras, eis um facto genuinamente político cuja importância só podemos sublinhar e aplaudir.