sexta-feira, setembro 30, 2016

Novas edições: Roosevelt

“Roosevelt” 
City Slang / Popstock 

Se, este ano, o título de “álbum do verão” ficou por conta do (delicioso) regresso dos Avalanches, agora que o outono chegou, mas já que o calor não nos quer abandonar), é a vez de darmos a Roosevelt o merecido protagonismo. Editado em meados de agosto, quando as atenções de muitos estavam ainda entre as jornadas de praia e os serões despreocupados, o álbum de estreia, que se apresenta com o mesmo nome – ou seja, Roosevelt – é daqueles raros exemplos de como alguém de uma nova geração de músicos sabe olhar para o mundo à sua volta e convocar todo um quadro de memórias para talhar um disco que nem quer ser a linha da frente da experimentação nem uma trip de nostalgia. Pelo contrário, e bem coisa de um presente que não se esgota no virar da esquina, este é dos mais saborosos discos pop de 2016 mostrando como se podem evitar os presets da moda e as tendências ensurdecedoras que fazem de tanta coisa mais-do-mesmo mais chamar atenção para o facto de ser nas franjas das electrónicas, mais até do que entre as guitarras, que o mais interessante do som pop/rock “indie” do presente está a caminhar.

Este é um projeto de um homem só. Chama-se Marcius Lauber, vem e Colónia e tem vindo a revelar, desde 2012, um talento na escrita de canções pop que moram algures numa avenida de frente de mar que liga os Hot Chip a uns Washed Out, mas sem vontade de esgotar as ideias por aquele segmento de acontecimentos. O álbum de estreia, que chama aqui alguns dos singles e telediscos que foi criando nestes quatro anos de primeiros passos dados em público, toma de facto esses dois pilares de referência da pop electrónica do presente como referências de familiaridade evidente. Porém, pelas suas canções passam ecos de memórias ballearic (como em Night Moves), heranças assimiladas da new wave, na etapa já de meados dos oitentas (Heart) ou um saber na escrita de refrões que em Belong tem sabor clássico a Duran Duran, numa canção que emprega electrónicas dos tempos da alvorada de uns Pet Shop Boys, sem contudo mostrar interesse em investir nas dinâmicas hi-nrg da construção da dupla Tennant/Lowe de então. Já em Colors desenham um piscar de olho de todos estes temperos aos ecos de uma pop em flirt house, via DFA, através uma estrutura rítmica que não foge ao que os Arcade Fire talharam (com James Murphy) em Reflektor.

Sem os sabores óbvios da pop do momento, mas de digestão fácil e capaz de nos seduzir ainda mais a cada reencontro, Roosevelt é o perfeito companheiro para um fim de estação que parece não ter vontade de ceder o lugar ao tempo mais frio. Um disco ainda quente, mas mais refrescante do que abrasador. E que mostra como uma voz pode ir mais longe no panorama pop atual se procurar a sua identidade sem ter de usar os códigos iguais aos do vizinho do lado.