Com Águas Perigosas encontramos o que tem faltado à temporada de Verão: um espectáculo que conhece as leis narrativas do modelo de thriller que aplica — este texto faz parte de um dossier do Diário de Notícias (10 Agosto) e foi publicado com o título 'Na solidão dos mares'.
Para Steven Spielberg, Tubarão (1975) foi um decisivo objecto de viragem, envolvendo não apenas a gestão da sua criatividade pessoal, mas também o seu poder de decisão no interior da grande máquina de Hollywood. Ainda assim, como depois veio a declarar, foi a primeira e última vez que fez um filme passado na água. Compelido a lidar com o mau funcionamento do tubarão mecânico (estava-se longe das proeza digitais da actualidade), enfrentando as dificuldades muito práticas de rodagem em pleno oceano, achou por bem encerrar o capítulo marinho da sua carreira.
O certo é que, como o próprio Spielberg já reconheceu, a ameaça das imagens do mar em Tubarão envolve uma simbologia da solidão que, na sua história pessoal, remete para o trauma da separação dos pais (com um novo e decisivo capítulo, cinco anos mais tarde, em E.T., o Extraterrestre). Este tipo de componentes em filmes de grande sucesso é quase sempre descartado em nome da sua condição de objectos “comerciais”. Claro que são raros os blockbusters capazes de exibir o brilhantismo de Tubarão (temos assistido mesmo a uma degradação de padrões induzida pela guerra comercial entre os impérios da BD, Marvel e DC Comics). Em qualquer caso, seria interessante voltarmos a mostrar alguma disponibilidade para lidar com a dimensão mais espectacular do cinema (americano ou não) para além da rejeição, automática e preconceituosa, dos seus valores narrativos.
O certo é que, como o próprio Spielberg já reconheceu, a ameaça das imagens do mar em Tubarão envolve uma simbologia da solidão que, na sua história pessoal, remete para o trauma da separação dos pais (com um novo e decisivo capítulo, cinco anos mais tarde, em E.T., o Extraterrestre). Este tipo de componentes em filmes de grande sucesso é quase sempre descartado em nome da sua condição de objectos “comerciais”. Claro que são raros os blockbusters capazes de exibir o brilhantismo de Tubarão (temos assistido mesmo a uma degradação de padrões induzida pela guerra comercial entre os impérios da BD, Marvel e DC Comics). Em qualquer caso, seria interessante voltarmos a mostrar alguma disponibilidade para lidar com a dimensão mais espectacular do cinema (americano ou não) para além da rejeição, automática e preconceituosa, dos seus valores narrativos.
É também por isso que um filme como Águas Perigosas possui um fascínio muito primitivo. As suas imagens do mar (mesmo que geradas por recursos digitais) nada têm a ver com qualquer visão “metafísica” da prática do surf pelos “famosos” — são apenas cenários depurados de um medo primordial, para o qual, com ou sem tubarões, as palavras sempre faltam.