1. “Vou-vos dar uma novidade: o Marco, para variar, está a conversar com a Kelly”, diz Bruno Esteves aos colegas que se encontram na sala. “Ao contrário de ti, que falas com todas e não te focas só numa”, responde Fábio. “Tu não conheces o Marco lá fora. Ele é grande bagaceiro”, garante o Top Boy.
2. O texto deste primeiro parágrafo é transcrito do site oficial de Love on Top. É um exemplo esclarecedor de uma miséria televisiva que, diariamente, acontece sem que nenhum responsável deste país (a começar pela área política) apresente algum ponto de vista sobre esta celebração (?) das relações humanas por um grupo de pessoas que passam o tempo estendidos em camas, em cenários sempre desarrumados, a falar mau português — tudo isso em nome do “realismo”.
3. Se outras razões não houvesse para prestarmos alguma atenção ao que está a acontecer, a simples (?) degradação da língua portuguesa seria motivo para perguntar em nome de quê se instalou como “coisa” normal esta reprodução infinita de tudo o que é vulgar e avesso a qualquer gosto criativo?
4. Bem sei que se trata de outro universo, mas o futebol continua a contribuir também para essa mesma destruição do bem falar português. Observe-se a consagração de disparates como a utilização da palavra “veleidade” como sinónimo de “hipótese” (não dar veleidades a...) e o triunfo do “tu” como tradução automática do “you” inglês (precisas de ter um defesa que...).
5. Passa-se o mesmo com os fogos: perante a tragédia, depois de décadas de indiferença às questões básicas de prevenção e cultura, o país está cheio de gente genuinamente preocupada. Ainda bem, porque, apesar de tudo, convém pensares no assunto — se não consegues apagar o fogo, mais vale estares preocupado do que indiferente...