João Pedro Rodrigues com o prémio de Locarno (FOTO: DN) |
O Ornitólogo valeu a João Pedro Rodrigues o prémio de realização na 69ª edição de Locarno, com o produtor Rodrigo Areias (El Auge del Humano) a surgir também no palmarés do certame — este texto foi publicado no Diário de Notícias (14 Agosto), tendo como base declarações de João Pedro Rodrigues e do produtor João Figueiras, recolhidas por Marina Marques.
O cinema português surgiu de novo no palmarés de um grande certame internacional: O Ornitólogo valeu a João Pedro Rodrigues o prémio de melhor realização no Festival de Locarno, evento tradicionalmente associado aos circuitos “alternativos” da produção internacional. O filme narra a odisseia de um homem que, ao estudar algumas aves raras no norte de Portugal, se vê envolvido numa viagem inesperada, com componentes fantásticas.
Outro português, Rodrigo Areias, na qualidade de coprodutor, partilhou o prémio principal, Leopardo de Ouro, da secção “Cineastas do presente”, atribuído a El Auge del Humano (Argentina/Brasil/Portugal), realizado pelo argentino Eduardo Williams. Recorde-se que a presença portuguesa portuguesa em Locarno envolveu ainda a longa-metragem Correspondências, de Rita Azevedo Gomes, sobre as cartas trocadas por Jorge de Sena e Sophia de Mello Breyner Andresen, e quatro curtas: Campo de Aviação, de Joana Pimenta, Estilhaços, de José Miguel Ribeiro, Setembro, de Leonor Noivo, e À Noite Fazem-se Amigos, de Rita Barbosa.
O prémio principal, o Leopardo de Ouro do concurso internacional (secção em que estava O Ornitólogo), foi atribuído ao filme búlgaro Godless, de Ralitza Petrova, coproduzido com Dinamarca e França. Nele se faz o retrato de uma mulher que trata doentes com demência, numa teia dramática que envolve a circulação ilegal de documentos e a dependência de morfina (no site oficial, o festival chamava a atenção para o facto de certas cenas poderem “chocar a sensibilidade de alguns espectadores”).
Na edição de 2012 de Locarno, João Pedro Rodrigues tinha já ganho o Prémio da Crítica, com A Última Vez que Vi Macau, um dos seus títulos co-realizado com João Rui Guerra da Mata (também presente em O Ornitólogo como co-argumentista e director artístico). Em declarações ao DN, falando de um filme “muito difícil de fazer”, quis sublinhar o seu reconhecimento: “É evidente que é um prémio para o filme. Mas também tem a ver com o meu percurso, pelo que o sinto como uma certa recompensa em relação aos filmes anteriores”.
“Rampa de lançamento”
Para João Pedro Rodrigues, o festival continua a ser uma referência muito especial: “Locarno aposta num cinema mais radical, mais pessoal e ousado. Não é um certame que pense só nos actores, como alguns que são, sobretudo, um mostruário de estrelas de Hollywood — tenho, por isso, um carinho muito especial por este festival.”
Relembrando os problemas financeiros que o filme ainda enfrenta, encara esta distinção também como uma maneira de superar a situação: “Dedico o prémio aos que trabalharam comigo. Só foi possível fazer O Ornitólogo com as pessoas que acreditaram no filme — são pessoas que, apesar de não ainda não terem sido pagas, não deixaram de trabalhar. Espero que a atenção que o filme tem recebido, com o prémio, as reacções muito positivas na imprensa e agora o percurso dos festivais, ajude a desbloquear a situação e a resolvê-la com justiça.”
João Figueiras, da produtora Blackmaria, garante que a situação está em processo de resolução, sublinhando que o prémio é “uma boa rampa de lançamento para o filme” — Toronto, San Sebastian e Pusan (Coreia do Sul) são alguns dos festivais que, nos próximos meses, vão acolher O Ornitólogo. A estreia em Portugal está a ser negociada, podendo acontecer apenas em 2017.
O realizador não esconde que gostava de ter uma data de estreia para breve nas salas do nosso país: “É um filme que tem por base uma das grandes mitologias populares portuguesas, a história de Santo António de Lisboa — estou ansioso por mostrá-lo em Portugal.” Entretanto, em França, O Ornitólogo estará no circuito comercial a partir de 30 de Novembro; antes, a 25 de Novembro, ocorre a sua ante-estreia que serve de abertura oficial da retrospectiva de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata, em Paris, no Centro Georges Pompidou.