"Fábio é expulso pelos portugueses" |
A tragédia televisiva contemporânea tem a sua expressão mais eloquente nos horrores quotidianos de Love on Top — aí, cada ser humano, espectador incluído, é (des)educado para ser boçal.
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Quem expulsou Fábio? Os "portugueses", diz a legenda.
No domínio essencial do simbólico, há dois regimes chantagistas a funcionar em Love on Top. O primeiro envolve, claro, o interior da casa: as personagens são apresentadas e representadas como expressão única e unívoca do factor humano — tudo o que somos pode suscitar algum paralelo com algum ou alguns dos concorrentes. O segundo promove uma violenta homogeneização: do lado de cá, não estão os "espectadores", eventualmente uma "audiência", mas sim os "portugueses".
Repare-se que não se trata de discutir pueris contabilidades: mesmo que todos os habitantes do país estivessem ao mesmo tempo a olhar para a mesma emissão, nada disso poderia ocultar os horrores da reality TV — se a história colectiva consagrasse automaticamente os "números" (quaisquer "números") como prova de legitimidade e razão, viveríamos em pleno fascismo. Trata-se, isso sim, de sublinhar como a ideologia do programa encena o colectivo social, não como um espaço de muitas diferenças e contradições, mas sim um rebanho a que se pertence, mesmo sem dar por isso — quem está a olhar são sempre os "portugueses".