O horror das notícias que chegam de Nice — um camião que ataca a multidão nas ruas, matando mais de sete dezenas de pessoas [Le Monde + Libération + BBC] — envolve, antes de tudo o mais, os dramas de pessoas anónimas, cidadãos incautos que celebravam o feriado nacional do 14 de Julho.
Ao mesmo tempo, e para além da crueza das informações, os ecos simbólicos do evento surgem agravados pelo facto de o local do ataque, Promenade des Anglais, envolver todo um imaginário geográfico e narrativo que, em última instância, reflecte uma cultura — a nossa cultura.
Ao mesmo tempo, e para além da crueza das informações, os ecos simbólicos do evento surgem agravados pelo facto de o local do ataque, Promenade des Anglais, envolver todo um imaginário geográfico e narrativo que, em última instância, reflecte uma cultura — a nossa cultura.
Pensamos, assim, no belíssimo espaço junto ao mar que se estende de Nice até ao Cap d'Antibes (incluindo, precisamente, o Promenade des Anglais), conhecido pela designação mágica de La Baie des Anges (à letra: Baía dos Anjos), várias vezes integrado pelo cinema, sobretudo em filmes de produção francesa — La Baie des Anges é, justamente, o título de um deles, realizado por Jacques Demy em 1963, com Jeanne Moreau e Claude Mann (lançado entre nós como A Grande Pecadora). São referências que nos recordam que está em jogo um modo de viver e pensar, um modo feito de lugares e relações humanas — a Europa, enfim.