FOTO: Kacper Pempel/Reuters (DN) |
Um homem atravessa o portão do campo de concentração de Auschwitz, com a frase da ignomínia nazi, proclamando que "o trabalho liberta". Que esse homem seja o Papa Francisco, eis o que não é indiferente e justifica a evidência com que encontramos o evento noticiado em meios de comunicação de todo o mundo [O Globo + Le Figaro + NPR].
Para além da obstinada defesa da memória, num gesto que transcende diferenças de sensibilidade religiosa ou comunitária, a visita do líder da Igreja Católica distinguiu-se por um elemento muito particular, hoje em dia raro no espaço mediático — o silêncio da sua deambulação [video: Le Monde]. Não que possamos ou devamos calar as palavras sobre o Holocausto, por certo fundamentais noutros momentos já vividos ou ainda por acontecer. Mas por vezes é importante resistir ao burburinho circundante, nem sempre adequado ao labor do pensamento, deixando que o silêncio possa expor o seu próprio simbolismo — porque o silêncio pode ser também um tempo incontornável no relançamento das palavras.