* "Cem dias para o parar" — escreve o jornal Libération na sua edição de fim de semana.
* Claro que, em última análise, o que está em causa não é uma missão jornalística mas, obviamente, a tarefa da candidatura do Partido Democrático: "Agora, só Hillary Clinton pode pará-lo na sua corrida à Casa Branca."
* De qualquer modo, este alarmismo securitário é muito típico de uma certa informação conotada com o imaginário da chamada esquerda — e que, evitemos o simplismo maniqueísta, contamina também muitos discursos ligados a sensibilidades que se definem à direita.
* Durante meses e meses, tal informação tratou Donald Trump como uma figura caricata e risível, susceptível de ser reduzida a manchetes mais ou menos divertidas. Agora, ficamos a saber que é preciso "pará-lo".
* Na prática, isto significa que predomina uma atitude irónica e pueril face à simples possibilidade de travar qualquer debate genuinamente ideológico — mesmo quando, desde o primeiro instante, estavam lá as componentes demagógicas e a lógica populista do discurso de Trump (em boa verdade, desde 1988, quando Trump, questionado por Oprah Winfrey, admitiu a possibilidade de se candidatar à Presidência dos EUA).
* Triunfa, assim, um jornalismo do niilismo permanente, promovendo a angústia da impotência contra o simples gosto de pensar — com as gratificações próprias da boa consciência de esquerda.