Como é que a Europa está a encarar (e a gerir) a multiplicação de canais de televisão? — esta crónica foi publicada no Diário de Notícias (17 Junho), com o título 'Perguntas "made in Europa"'.
De acordo com informações do MAVISE (base de dados do Observatório Europeu do Audiovisual), o número de canais a funcionar nos países da União Europeia era, em 2015, de 5370. Contas redondas, isto significa que tal número aumentou 50% desde 2009 (quando existiam 3615 canais).
Que fazer com esses valores? Perante uma tão vasta rede de circuitos audiovisuais, importa perguntar se os agentes e decisores, directa ou indirectamente ligados a tal crescimento, possuem estratégias claras — e, já agora, interessantes — para lidar com as suas implicações. A interrogação está longe de ser abstracta. E coloca-nos perante dúvidas tanto mais concretas quanto escusado será dizer que nenhuma visão nacional (muito menos nacionalista) nos ajudará a lidar com fenómenos que, mais do que nunca, são mesmo globais e globalizantes.
Assim, que pensam as televisões generalistas sobre a lenta, mas metódica, transferência de muitos sectores de consumidores para o sector do cabo? Ou ainda: que ideias têm essas televisões para lidar com o desgaste de muitas formas de ficção e entretenimento que, melhor ou pior, definem há décadas os seus padrões dominantes de programação? Em paralelo, como é que os canais do cabo encaram a especialização que as suas plataformas de difusão podem favorecer?
A encruzilhada não é simples. E não só porque muitos modelos clássicos — da ficção à informação — estão a ser drasticamente questionados. Também porque ninguém tem certezas sobre as configurações a que, no presente e no futuro próximo, corresponde a noção de “espectador de televisão”. Será preciso pensar tudo o que está em jogo, muito para além da perspectiva das entidades que investem na publicidade. Trata-se, ainda e sempre, de ter programas capazes de integrar anúncios; não uma colagem de anúncios em que, por vezes, julgamos vislumbrar um programa.