Já sabíamos que a maior parte dos publicitários considera que a cumplicidade entre os humanos é uma coisa fútil que se encena através de dois ou três clichés pueris: corpos aos pulos, bocas a berrar e, eventualmente, gente a correr descalça numa praia... De vez em quando, esses mesmos publicitários não resistem e comportam-se como se a sociedade os obrigasse (provavelmente, obriga...) a vender-nos os mais variados produtos através de sermões mais ou menos filosóficos.
A nova campanha da SuperBock — 'Leva a amizade a sério' — consegue promover o ridículo de tudo isso a níveis dificilmente imagináveis. "Com que direito trocas um jantar de família por um copo com a malta? Ou com que direito sais de uma reunião porque tens amigos à espera?" — eis algumas das transcendentes interrogações existenciais que a campanha formula [video], desembocando em preceitos como "qualquer amigo tem direito a justificar-se quando a amizade estiver em risco" ou "um amigo tem direito a um favor irrecusável por ano".
A arte de fabricar ruído sem dizer nada de consistente tornou-se viral (no domínio social, e em rede). Na prática, a infantilização do consumidor vai a par de uma delirante mascarada de seriedade — tudo servido com a desfaçatez de quem nos quer ensinar a reconhecer a metafísica dos nossos destinos no acto prosaico de beber uma cerveja.
A arte de fabricar ruído sem dizer nada de consistente tornou-se viral (no domínio social, e em rede). Na prática, a infantilização do consumidor vai a par de uma delirante mascarada de seriedade — tudo servido com a desfaçatez de quem nos quer ensinar a reconhecer a metafísica dos nossos destinos no acto prosaico de beber uma cerveja.