quinta-feira, março 24, 2016

Batman v. Super-Homem (memórias)

1978
Muito antes do desastroso Batman v. Super-Homem: O Despertar da Jutiça, o cinema tinha verdadeiros projectos de espectáculo com os super-heróis da BD — este texto foi publicado no Diário de Notícias (23 Março), com o título 'Quando começou a idade moderna dos super-heróis...'.

Em 1978, quando surgiu o Superman, de Richard Donner, com Christopher Reeve, ficou célebre um desabafo feliz do realizador: “O meu Super-Homem voa e voa maravilhosamente — isso é algo que ninguém me pode tirar.”
Tal contentamento pareceria deslocado se ouvíssemos agora Zack Snyder a celebrar os dotes voadores dos heróis de Batman v. Super-Homem: O Despertar da Justiça. De facto, os modernos recursos digitais banalizaram tais proezas (e o novo filme é também um amargo sintoma dessa banalização). Acontece que, em finais da década de 70, conseguir filmar o lendário vigilante de “S” no peito, vogando por cima dos arranha-céus de Metropolis, para mais com a capa vermelha em controlada e elegante ondulação, estava longe de ser coisa óbvia, muito menos automática. Para a história, com o seu orçamento de 55 milhões de dólares, Superman ficou mesmo como o mais caro filme feito até então (um ano antes, por um preço de 11 milhões, o primeiro título de A Guerra das Estrelas quase parecia um produto de cinema independente). Em termos industriais e comerciais, assistia-se ao triunfo do modelo de “blockbusters”, lançado em 1975 com um filme admirável de Steven Spielberg, chamado Tubarão.
1989
Nas últimas décadas, para o melhor e para o pior (cada vez mais para o pior...), a história cinematográfica dos super-heróis tem sido também a história das muitas manipulações técnicas que se aplicaram — ou, por vezes, se inventaram — para pôr gente a voar, cidades a ruir, galáxias a explodir. Se um filme como Superman conquistou um estatuto de clássico, isso deve-se, não à ostentação dos efeitos especiais, mas sim ao modo como a sua utilização estava ao serviço da intensidade dramática de um universo de aventuras e da vocação espectacular de uma personagem.
O mesmo se poderá dizer, aliás, do outro filme que baliza a idade moderna dos super-heróis, neste caso centrando-se na figura, igualmente inconfundível, do Homem-Morcego: Batman (1989), de Tim Burton, repôs a duplicidade de Bruce Wayne no imaginário cinéfilo, ao mesmo tempo inaugurando uma “tendência” que vale a pena sublinhar. A saber: a importância de algumas figuras “secundárias” na definição simbólica ou, sobretudo, irónica do próprio herói. Assim, as gargalhadas vorazes do Joker são essenciais no espírito de “ópera bufa” que Burton explora, a ponto de se poder dizer que o trabalho de Jack Nicholson na sua composição é mais emblemático (e ficou mais conhecido) que a própria interpretação de Batman por Michael Keaton. Para a história mitológica destas atribulações, recorde-se que um dos nomes que chegou a ser pensado para assumir a personagem do Joker foi David Bowie.