quarta-feira, novembro 04, 2015
Memórias do rock'n'roll
segundo os arquivos da imprensa musical
Folheamos as páginas e caminhamos entre os artigos… Os Beatles entram numa nova etapa da sua vida empresarial… Brian Jones, dos Rolling Stones, explica que Jumpin Jack Flash, o novo single, lhe sugere o mesmo entusiasmo de Satisfaction, lançado três anos antes. Jimi Hendrix revela os projetos que tem para o futuro próximo. John Peel, DJ da BBC, apresenta novos singles, entre os quais surgem os Tyrannosaurus Rex. Ray Davies e companheiros apresentam The Kinks Are The Village Green Preservation Society. Louis Armstrong prepara uma residência no Yorkshire. Os Beach Boys encaram uma nova etapa da sua carreira após os momentos difíceis do ano anterior. E não… Não se tratam de memórias contadas nem de histórias que alguém, em 2015, redigiu recordando citações de outros tempos. Todas estas histórias são, caso não tenham ainda feito as contas, de 1968… E, contadas em textos publicados no mesmo ano em que surgiam estes discos e notícias, são recuperadas na quarta edição de The History of Rock, uma nova publicação surgida este verão e que mostra o valor “de arquivo” vivo que habita o acervo de anos de história do (extinto) Melody Maker e New Musical Express, jornais de importância maior na história da imprensa musical.
Não é a primeira vez que publicações com história dedicam páginas nem a revisões da matéria dada nem mesmo à republicação de artigos dos respetivos arquivos. A novidade (e o lado mais atraente) de The History of Rock é o modo como as memórias são arrumadas, propondo cada edição (mensal) uma seleção de quase 150 páginas de artigos de um mesmo ano. E para que seja clara esta mesma lógica de arrumação, a revista tem avançado no tempo, ano a ano, mês após mês. Tendo começado a recolher memórias de 1965 (aproveitando inteligentemente o efeito “efeméride” do meio século vivido sobre os assuntos e textos publicados nesse primeiro número lançado há quatro meses), The History of Rock caminha neste momento rumo a 1969, anunciando a última página deste número dedicado a 1968 uma seleção de artigos, desse ano marcado por Woodstock, passando pelas memórias de nomes como os de David Bowie, Blind Faith, Rolling Stones, Bob Dylan ou The Beatles.
Há, assim sendo, muitos anos anos de histórias ainda para arrumar e revisitar. Não seria contudo má ideia recuar depois aos anos 50 (já que o NME foi fundado em 1952). E, em querendo, há nestes mesmos arquivos, textos e imagens que recuam a 1926, o ano em que o Melody Maker surgiu nas bancas. Há, naturalmente, quem goste de acumular papelada em casa e não dispense o sentido colecionista. Mas estas novas revistas ajudam a juntar histórias sob uma lombada comum. A poupar espaço. E dão azo a limpezas de prateleiras… As traças é que não vão gostar, sobretudo as que se habituaram ao sabor vintage do papel de jornal dos anos 60…
Este texto foi originalmente publicado na Máquina de Escrever