segunda-feira, novembro 02, 2015

À espera de James Bond

Sam Mendes e Daniel Craig
— rodagem de Spectre
A chegada ao mercado das salas de um novo filme do agente secreto 007 envolve uma estratégia quase militar — este texto foi publicado no Diário de Notícias (31 Outubro), com o título 'À espera do mais caro filme de sempre'.

O lançamento comercial de um novo filme de James Bond tem qualquer coisa de operação militar, envolvendo um segredo guardado até aos derradeiros momentos. Literalmente: entre nós, Spectre chegará às salas no dia 5 de Novembro, mas apenas terá a respectiva projecção de imprensa no dia 3 (estando em exibição no Reino Unido desde 26 de Outubro; nos EUA surgirá um dia depois de Portugal e de grande parte dos países europeus).
Tal projecção acontecerá envolvida em apertadas medidas de segurança, tendo sido solicitada a cooperação dos representantes da comunicação social no sentido de não usarem telemóveis ou quaisquer outros instrumentos de registo de imagem e som. Mais do que isso: os jornalistas foram alertados para o facto de “durante a exibição do filme estarem presentes na sala seguranças munidos de aparelhos de leitura óptica”.
Estamos a falar, afinal, de um gigantesco investimento susceptível de atrair as mais diversas formas de pirataria que, muito para além da saga do agente secreto 007, têm abalado o mercado dos filmes (em particular no continente asiático). A 15 de Março deste ano, em artigo publicado na Forbes, Benjamin Moore escrevia mesmo que a revista estava em condições de garantir que o orçamento de Spectre chegaria aos 350 milhões de dólares, tornando-o, muito provavelmente, o mais caro filme de sempre.
No contexto da economia global do cinema, isto significa que, para ser um genuíno sucesso, Spectre terá de acumular receitas astronómicas, já que, além do também enorme investimento na promoção, convém não esquecer que, em média, uns bons 50 por cento daquelas receitas ficam com os exibidores (e não vão para os produtores). Para termos uma noção desta cruel matemática, lembremos o lançamento, em 2013, pelos estúdios Disney, de O Mascarilha, com Johnny Depp. O filme conseguiu uma bilheteira global de 260 milhões (89 nos EUA), para um custo de produção de 215 millhões... Um resultado, apesar de tudo, razoável? Nada disso: é mesmo considerado um dos maiores flops de toda a história da casa do rato Mickey.
Uma coisa é certa: o realizador Sam Mendes pôde contar com meios absolutamente fora de série para concretizar Spectre, numa rodagem que passou por cenários do México, Marrocos, Itália e Áustria, para desembocar nos lendários estúdios de Pinewood, a cerca de 30 km do centro de Londres.
Curiosamente, e para além das qualidades que tiver para mostrar, o novo filme surge enquadrado por um espírito de fim de ciclo. Por um lado, porque o intérprete de Bond, Daniel Craig (é a sua quarta presença como 007), tem dado alguns sinais de poder estar a ponderar uma saída da franchise; por outro lado, porque Mendes, responsável também pelo anterior Skyfall (2012), já declarou que não fará mais nenhum Bond... Sintomaticamente ou não, a canção-tema (Writing’s on the Wall, interpretada por Sam Smith) possui um interessante e inesperado tom dramático, algo fúnebre.