sábado, setembro 19, 2015

Debate na rádio — que política?

Pedro Passos Coelho e António Costa protagonizaram um debate na rádio... Ou foram à rádio para aparecer na televisão? — este texto foi publicado no Diário de Notícias (18 Setembro), com o título 'Quando o vídeo matou as estrelas da rádio'.

Ao princípio da tarde de quinta-feira, cerca de três horas depois de concluído o debate radiofónico Pedro Passos Coelho/António Costa, a sua ocorrência não era motivo de destaque nos sites dos canais generalistas de televisão (na TVI, por exemplo, o acontecimento prioritário era mesmo um vídeo de Cristina Ferreira sobre “Os segredos do arroz”). Além do mais, o país real era mobilizado para a tragédia de André Carrillo não estar na lista de convocados para o jogo do Sporting com o Lokomotiv Moscovo.
Há outra maneira de dizer isto (infinitamente minoritária na sociedade portuguesa): a reflexão sobre a nossa cultura audiovisual não está na agenda político-mediática da actual campanha, sendo tabu qualquer forma de pensamento sobre o populismo televisivo que, todos os dias, estrangula a inteligência colectiva.
Vivemos, por isso, com mais de três décadas de atraso, o nosso momento MTV. Lembremos que, a 1 de Agosto de 1981, as emissões do canal que revolucionou os parâmetros musicais foram inauguradas com a passagem de um teledisco que, literalmente, proclamava a morte das estrelas da rádio às mãos (ou às imagens) da televisão — a canção da banda britânica The Buggles tinha mesmo o eloquente título Video Killed the Radio Star. Agora, no plano das linguagens audiovisuais, o que aconteceu é do mesmo teor.


Numa bizarra autofagia, as rádios não quiseram (ou não puderam) fazer prevalecer o recato próprio dos seus estúdios, transferindo-se para o cenário espectacular (?) já utilizado pelas televisões. Na prática, isso fez com que Pedro Passos Coelho e António Costa assumissem mesmo as suas intervenções finais com o olhar fixo numa das câmaras, involuntariamente emprestando realismo ao ridículo muitas vezes explorado pelo humor do notável Portugalex (Antena 1), com os magníficos António Machado e Manuel Marques a interpretarem personagens que trazem os mais variados objectos para “mostrar” na rádio...
Tudo isto envolve uma lição social, sem rede, que seria interessante enfrentar. A saber: quase tudo o que acontece na cena política é compulsivamente executado em função das imagens televisivas que pode gerar. Se a nossa má vontade não tivesse limites, diríamos que a utopia das televisões seria um político preso em casa para, à sua volta, montarem um novo Big Brother... Ups!