Assim vai o populismo tele-cinematográfico: Um Encontro com o Destino encena as atribulações de uma família portuguesa no Canadá — este texto foi publicado no Diário de Notícias (13 Agosto), com o título 'Pitoresco televisivo'.
Se o filme de John L’Ecuyer, Um Encontro com o Destino, é ou não uma versão canadiana do interessante A Gaiola Dourada (2013), eis o que, francamente, me parece secundário. Afinal de contas, tal hipótese não lhe garantiria qualquer vantagem (ou desvantagem, em boa verdade). Acontece que, pelo menos desde o banal Viram-se Gregos para Casar (2002), a representação das comunidades de origem estrangeira num determinado país parece funcionar como estratagema fácil para acumular lugares-comuns que variam entre a mais esquemática caricatura social e alguns requentados modelos de comédia.
No caso de Um Encontro com o Destino, as coisas agravam-se porque, aparentemente, se quis recuperar certas matrizes da clássica comédia romântica, para mais tentando tirar partido de uma narrativa não linear (?) em que o futuro do par central acontece como uma projecção “imaginária”. Na prática, tal não passa de um “truque” narrativo cuja possível eficácia é rapidamente anulada pela vulgaridade das peripécias. Tendo em conta que o protagonista masculino é um patético autor de comédias televisivas, dir-se-ia que tudo acontece como se o próprio filme fosse uma emanação da sua (falta de) criatividade.
Como se não bastasse a pobreza cinematográfica de tudo isto, somos prendados com uma representação dos “portugueses” que está ao nível do mais vulgar pitoresco televisivo. Uma crença militante numa vidente, uma filha adolescente sexualmente ansiosa, uma refeição de cozido à portuguesa, o retrato de Cristiano Ronaldo na parede... Seria difícil acumular mais anedotas grosseiras disfarçadas de humor “sociológico”. Este é, afinal, o filme em que a noção de comédia passa por uma cena familiar em que o cão da protagonista abocanha uma embalagem de preservativos... Palavras para quê?