quarta-feira, agosto 12, 2015

Michael Fassbender / Steve Jobs

Michael Fassbender é o "novo" Steve Jobs no cinema: o filme, escrito por Aaron Sorkin e dirigido por Danny Boyle, chegará no final do ano — este texto foi publicado no Diário de Notícias (7 Agosto).

Decididamente, a existência cinematográfica de Steve Jobs (1955-2011) não é simples. Há cerca de dois anos, o filme Jobs, de Joshua Michael Stern, com Ashton Kutcher no papel do mago dos computadores Apple, deixou em quase todos os espectadores a sensação paradoxal de um retrato caloroso, mas superficial. Entretanto, o documentarista Alex Gibney, autor de A Mentira de Armstrong, sobre o ciclista Lance Armstrong, realizou Steve Jobs: The Man in the Machine (estreado em Março no festival South by Southwest, de Austin, Texas). Em todo o caso, podemos apostar que os próximos meses vão estar marcados por muitas discussões e especulações, pró ou contra, motivadas pelo filme Steve Jobs.
O lançamento de Steve Jobs nas salas americanas ocorrerá a 9 de Outubro, seis dias depois da sua primeira apresentação pública, no Festival de Cinema de Nova Iorque; o filme estará depois na gala de encerramento, a 18 de Outubro, do Festival de Londres (estreia portuguesa: 12 de Novembro). Tendo em conta os sobressaltos que marcaram a produção, o mínimo que se pode dizer é que haverá nele alguma fidelidade às ideias e emoções mais íntimas da sua figura central. Trata-se, de facto, de uma adaptação da biografia homónima, escrita por Walter Isaacson a pedido do próprio Jobs (o livro foi lançado em 2011, cerca de três semanas passadas sobre o seu falecimento, a 5 de Outubro).
Steve Jobs tem realização de Danny Boyle, o inglês que assinou, por exemplo, Trainspotting (1996), filme de culto sobre um grupo de toxicodependentes, e A Praia (2000), adaptação do “best-seller” de Alex Garland, com Leonardo DiCaprio. Em todo o caso, na gestação do projecto, terá sido decisiva a personalidade do argumentista Aaron Sorkin, responsável pela adaptação do livro de Isaacson. Pormenor revelador: no dia 27 de Julho, ao anunciar a passagem do filme no Festival de Nova Iorque, The Hollywood Reporter, publicação de referência da indústria americana, identificava-o no título da sua notícia como Steve Jobs, de Aaron Sorkin”.
Como muitas vezes acontece em Hollywood, a entrada do argumentista no projecto aconteceu antes da escolha do realizador. Assim, foi a Sony Pictures que contratou Sorkin, logo após a aquisição dos direitos de adaptação da biografia de Isaacson (negociação que decorreu ainda antes da sua chegada às livrarias). E foi o próprio Sorkin que, no final de 2011, revelou que, além de ter contado com o aconselhamento de Steve Wozniak (também co-fundador da Apple), estava a trabalhar numa estrutura narrativa que dividiria o filme em três grandes cenas de cerca de meia hora, apenas com ligeiros desvios para inserir algumas memórias emblemáticas da vida de Jobs. Matéria específica dessas cenas: os lançamentos das máquinas com que Jobs revolucionou a informática e, mais do que isso, a vida quotidiana de milhões de consumidores. Ou seja: o computador pessoal Macintosh, depois celebrizado como Mac, em 1984; o NeXT, em 1988, quando Jobs foi afastado da Apple; e, por fim, o iMac, em 1988, de novo sob o signo da Apple.
A constituição da equipa do filme foi tudo menos pacífica. No início de 2014, já com o argumento concluído, pareciam estar reunidas as condições para ser David Fincher a assumir a realização — seria, assim, o reencontro da dupla que esteva na base de A Rede Social (2010), sobre Mark Zuckerberg e o nascimento do Facebook (que valeu a Sorkin um Oscar de melhor argumento adaptado). Depois de o nome de George Clooney ter circulado como uma hipótese para interpretar Jobs, Fincher escolheu Christian Bale. O certo é que, em Abril, se afastou do projecto, tanto quanto se sabe por divergências contratuais com a Sony — foi aí que surgiu a escolha de Danny Boyle.
Proliferaram, então, as notícias sobre a hipótese de Jobs vir a ser interpretado por Leonardo DiCaprio, Ben Affleck, Matt Damon... Até Christian Bale voltar a ser anunciado. Aliás, em entrevista ao canal Bloomberg, a 23 de Outubro, foi o próprio Sorkin a considerar que se tinha encontrado o “melhor actor” para o papel. Até que a 11 de Novembro surgiu a notícia mais inesperada: Bale afastava-se definitivamente, considerando que “não era a escolha certa”. Michael Fassbender acabou por ser o eleito para interpretar Jobs, não sem que o projecto sofresse mais uma reviravolta também muito típica de Hollywood, com a Sony a desinteressar-se do filme, acabando por ser assumido pelos estúdios da Universal.
Além de Fassbender, o elenco de Steve Jobs conta, entre outros, com os nomes de Kate Winslet (no papel de Joanna Hoffman, que integrou os projectos Mac e NeXT), Jeff Daniels (John Sculley, CEO da Apple no período 1983-93) e Seth Rogen (Steve Wozniak). Será, por certo, um dos títulos a ter em conta na corrida aos próximos Oscars (a atribuir a 28 de Fevereiro de 2016). Entretanto, confirmando a sedução e a mitologia da personagem, nos EUA, a Ópera de Santa Fé acaba de anunciar a produção de uma ópera intitulada A Revolução de Steve Jobs — tem música de Mason Bates, libretto de Mark Campbell, e estreará em 2017.