A. Há qualquer coisa de tragicamente sintomático no facto de algumas vozes do Partido Socialista, depois da agitação provocada pelos seus próprios cartazes, virem "denunciar" a falsidade que atribuem aos cartazes da coligação PSD/CDS: tais cartazes utilizam, afinal, fotografias de estrangeiros (por certo, provenientes de agências de imagens) para fazer passar mensagens referentes a Portugal.
B. Porquê sintomático? Porque o gesto apenas serviu para expor a terrível miséria conceptual e figurativa de todos os cartazes — há neles a aplicação do mesmíssimo conceito de "personalização" que, hoje em dia, os publicitários impõem tanto no espaço político como na venda de elixir para proteger os dentes (e não estou, obviamente, a inventar): um rosto "simbólico" é usado para sustentar um slogan mais ou menos simplista.
C. Havia, como é óbvio, no caso do PS, uma falta mais grave: a de colocar na boca das pessoas figuradas frases que não lhes pertenciam (nem sequer reflectiam a sua situação laboral). O certo é que os partidos se equivalem na mesma gestão tecnocrática das imagens (como, aliás, PCP ou BE — basta olhar à nossa volta): do espaço específico da política não emana qualquer estratégia criativa, pensada e consistente, para lidar com o nosso mundo de imagens. Por alguma razão, há muito tempo esses mesmos partidos passaram a ter uma posição vazia e diletante perante os poderes quotidianos (e muito políticos) do espaço televisivo.