Jennifer Reeder (FOTO: Berlinale) |
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E se a adolescência não fosse essa zona de transição mais ou menos agitada entre a "infância" e a "idade adulta"? E se, em vez de representar a dramática saída de uma vivência, acedendo a outra, a adolescência fosse um buraco negro que nada nem ninguém conseguirá expor numa transparência definitiva? Blood Below the Skin, da americana Jennifer Reeder, é uma pequena e admirável proeza centrada num núcleo de três alunas de um liceu, revelando, precisamente, a enigmática intensidade das pulsões que se movimentam para além das aparências — como diz o título, este é um filme sobre o sangue sob a pele, todo ele envolvido num misto de realismo e simbolismo (que, aliás, contamina logo os espantosos grandes planos de abertura). Em última instância, estamos perante uma história de sexo & poder, capaz de relativizar os papéis herdados por cada um através da família, da escola ou, em termos gerais, da sociedade. Estranhamente, ou talvez não, Blood Below the Skin faz lembrar a vibração muito física de alguns dos primeiros filmes de Jerzy Skolimowski, a começar por Deep End (1970) — foi um dos momentos altos do Curtas Vila do Conde.