quarta-feira, abril 08, 2015

Madonna depois do apocalipse

Há dias, ao divulgar em primeira mão esta foto de Madonna no teledisco de Ghosttown, a Vogue sublinhava o facto de nela encontrarmos uma personagem reminiscente da era Vitoriana, sem que, no dizer da estilista do video, isso excluísse uma silhueta rock'n'roll. E concluía o breve artigo, sublinhando uma máxima teatral: em caso de dúvida, opte-se pelo drama.
Madonna não só optou pelo drama [ver teledisco no post anterior], encenando-se como uma sobrevivente em paisagem pós-apocalíptica, como voltou a convocar um dos magos da pequena narrativa, o sueco Jonas Akerlund, para mais um admirável tour de force visual e dramático.
Num confronto com o excelente Terrence Howard (que podemos ver actualmente na série Empire, de Lee Daniels), Madonna evolui entre uma paisagem de ficção científica e um apelo de musical (enquanto género de palco, entenda-se), preservando uma dimensão de fábula cujo ponto de fuga se confunde com uma hipótese de reconstituição do núcleo familiar.
É a sexta vez que Akerlund assina um teledisco de Madonna. A sua colaboração começou com Ray of Light (1988), obra-prima absoluta desta linguagem, tendo-se seguido Music (2000), American Life (2003) — cuja versão original continua por editar em DVD —, Jump (2006) e Celebration (2009). Para a história, registe-se também que este é o segundo teledisco de Madonna em que a estrutura da canção foi retrabalhada através de um silêncio [03m 02s] que não está no registo editado — a primeira vez foi em Bad Girl (1993), outro momento de excelência da sua videografia, realizado por David Fincher.