A Teoria de Tudo |
A corrida dos Oscars recorda-nos, pelo menos, que ainda há actores... Importa estimá-los — este texto foi publicado no Diário de Notícias (27 Janeiro), com o título 'A educação do olhar'.
Num plano meramente subjectivo, não considero a interpretação de Eddie Redmayne, na personagem de Stephen Hawking, em A Teoria de Tudo, como a “melhor” do ano.
Se fosse esse o caso, por mim escolheria Bradley Cooper, como protagonista de Sniper Americano, ou até mesmo Oscar Isaac (que nem sequer está nomeado para os Oscars) pela sua composição de suaves convulsões emocionais no admirável Um Ano Muito Violento (estreia dia 5).
Se fosse esse o caso, por mim escolheria Bradley Cooper, como protagonista de Sniper Americano, ou até mesmo Oscar Isaac (que nem sequer está nomeado para os Oscars) pela sua composição de suaves convulsões emocionais no admirável Um Ano Muito Violento (estreia dia 5).
Em todo o caso, gostaria que o meu ponto de vista não fosse confundido com o cinismo cultural daqueles que, dentro ou fora do jornalismo, proclamam que as personagens com “deformações” físicas são sempre favorecidas pela Academia de Hollywood (lamento se a observação pode arrastar algum efeito ofensivo, mas estou apenas a utilizar o vocabulário de muita gente séria que, desse modo, considera exprimir um ponto de vista natural e um argumento legítimo). Aliás, faço questão em sublinhar a minha admiração pela complexidade do trabalho de Redmayne, resultante de uma profunda disciplina profissional e também de uma inegável entrega humana.
O que gostaria de enaltecer é o facto de, nem que seja apenas durante a temporada dos prémios do cinema americano (e, em particular, sob o efeito promocional dos Oscars), se voltar a valorizar o labor específico de actores e actrizes. Porque, de facto, a proliferação de aventuras mais ou menos digitais, com super-heróis que destroem cidades cena sim, cena não, tem deseducado muitos olhares, afastando-os das infinitas nuances que podem nascer de um corpo humano face a uma câmara de filmar. Quando, um dia destes, a maior parte dos espectadores olhar para Marlon Brando, em Há Lodo no Cais (1954), sem sentir o mais discreto abalo emocional, aí, podem crer, o cinema morreu.