CD, 20/20/20
4 / 5
Quando, com uma digressão japonesa ainda pela frente, Dean Wareham anunciou a saída (e o fim) dos Galaxie 500 em 1991, Damon Krukowski e Naomi Young deram por si com um lote de sessões inacabadas em estúdio nas mãos. Os tempos que se seguiram viram-nos de mangas arregaçadas, a trabalhar na editora livreira que eles mesmos haviam criado dois anos antes e pela qual estavam a relançar textos de autores dos séculos XIX e XX como Guillaume Apollinaire, Antonin Artaud ou Fernando Pessoa. Desafiados a regressar a estúdio, acabaram por completar um álbum, que editaram em 1992 com o título More Sad Hits, encetando um percurso musical pós-Galaxie 500 que assim não fechou nas experiências posteriores de Wareham (via Luna ou em parceria com Britta Phillips) a expressão de descendências de uma das mais marcantes bandas indie norte-americanas de finais dos oitentas e inícios dos noventas. A música nunca esgotou os horizontes criativos de Damon e Naomi. Ele foi trabalhando sobretudo a escrita (entre a poesia e a prosa, chegando mesmo a escrever sobre música, publicando na Pitchfork). Ela, por seu lado, foi focando atenções na fotografia e trabalho em vídeo, tendo mesmo assinado telediscos, apresentando agora um primeiro filme da sua autoria. Tem por título Fortune, é uma curta-metragem com cerca de 30 minutos, sem palavras mas com banda sonora feita de canções suas e de Damon. Ou seja, o novo álbum de Damon & Naomi não é senão a banda sonora para este filme que reflete sobre a perda de um pai (um artista), situação na verdade não estranha ao passado recente na vida pessoal de Naomi.
Fortune, que representa o primeiro conjunto de novas gravações de Damon & Naomi desde o álbum False Beats and True Hearts. Mais que uma explicação para a narrativa as canções surgem como um complemento que com as imagens anda de mãos dadas, revelando um corpo de canções, ajustadas ao ritmo das cenas, sempre toldadas pela melancolia, e nas quais vão alternando as vozes de Damon e Naomi. Os arranjos são subtis mas longe de minimalistas, seguindo pistas de uma linguagem que tem as memórias dos Galaxie 500 na sua genética mas todo um percurso a dois vivido em discos publicados depois de 1992.
Sem esconder o tom elegíaco que o filme ajuda a materializar, as canções fazem de Fortune um belo álbum sobre a perda e a memória. Mesmo longe de descritivas, são parte inevitável do corpo do filme, sendo que em disco conseguem ter também uma vida própria. Uma boa banda sonora, portanto.
Quando, com uma digressão japonesa ainda pela frente, Dean Wareham anunciou a saída (e o fim) dos Galaxie 500 em 1991, Damon Krukowski e Naomi Young deram por si com um lote de sessões inacabadas em estúdio nas mãos. Os tempos que se seguiram viram-nos de mangas arregaçadas, a trabalhar na editora livreira que eles mesmos haviam criado dois anos antes e pela qual estavam a relançar textos de autores dos séculos XIX e XX como Guillaume Apollinaire, Antonin Artaud ou Fernando Pessoa. Desafiados a regressar a estúdio, acabaram por completar um álbum, que editaram em 1992 com o título More Sad Hits, encetando um percurso musical pós-Galaxie 500 que assim não fechou nas experiências posteriores de Wareham (via Luna ou em parceria com Britta Phillips) a expressão de descendências de uma das mais marcantes bandas indie norte-americanas de finais dos oitentas e inícios dos noventas. A música nunca esgotou os horizontes criativos de Damon e Naomi. Ele foi trabalhando sobretudo a escrita (entre a poesia e a prosa, chegando mesmo a escrever sobre música, publicando na Pitchfork). Ela, por seu lado, foi focando atenções na fotografia e trabalho em vídeo, tendo mesmo assinado telediscos, apresentando agora um primeiro filme da sua autoria. Tem por título Fortune, é uma curta-metragem com cerca de 30 minutos, sem palavras mas com banda sonora feita de canções suas e de Damon. Ou seja, o novo álbum de Damon & Naomi não é senão a banda sonora para este filme que reflete sobre a perda de um pai (um artista), situação na verdade não estranha ao passado recente na vida pessoal de Naomi.
Fortune, que representa o primeiro conjunto de novas gravações de Damon & Naomi desde o álbum False Beats and True Hearts. Mais que uma explicação para a narrativa as canções surgem como um complemento que com as imagens anda de mãos dadas, revelando um corpo de canções, ajustadas ao ritmo das cenas, sempre toldadas pela melancolia, e nas quais vão alternando as vozes de Damon e Naomi. Os arranjos são subtis mas longe de minimalistas, seguindo pistas de uma linguagem que tem as memórias dos Galaxie 500 na sua genética mas todo um percurso a dois vivido em discos publicados depois de 1992.
Sem esconder o tom elegíaco que o filme ajuda a materializar, as canções fazem de Fortune um belo álbum sobre a perda e a memória. Mesmo longe de descritivas, são parte inevitável do corpo do filme, sendo que em disco conseguem ter também uma vida própria. Uma boa banda sonora, portanto.
Este texto foi originalmente publicado na Máquina de Escrever