quarta-feira, fevereiro 25, 2015

A aventura de Kingsman (2/2)

Afinal, é possível aplicar as mais modernas tecnologias sem ser para deitar abaixo arranha-céus, cena sim, cena não: Kingsman: Serviços Secretos faz-nos acreditar nos mais genuínos poderes do espectáculo — este texto foi publicado no Diário de Notícias (19 Fevereiro), com o título 'A grande aventura'.

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Na abertura de Kingsman: Serviços Secretos, a frenética acção é musicalmente comentada, com desconcertante efeito irónico, pelo clássico Money for Nothing, dos Dire Straits. Na mais delirante das suas sequências, quando o mundo está à beira da destruição total, escutamos a célebre marcha de Pompa e Circunstância composta por Edward Elgar. Algures numa situação marcada por uma peculiar promessa erótica (cuja descrição é, aqui, omitida em nome do mais saudável bom senso deontológico), surge a inconfundível languidez de Slave to Love [video de Jean-Baptiste Mondino, 1985], de Bryan Ferry, a pontuar os acontecimentos... Dito de outro modo: há no filme de Matthew Vaughn uma sábia utilização das matérias musicais que, no fundo, ilustra e amplia a musicalidade da sua construção narrativa.


Não é todos os dias que deparamos com um filme, ao mesmo tempo tão elaborado e tão feliz, capaz de mostrar que os recursos dos mais recentes grandes espectáculos (incluindo os célebres “efeitos especiais”) não têm que ficar emperrados na falta de imaginação e exasperante monotonia que, nos últimos anos, tem marcado tantos filmes de super-heróis. Kingsman: Serviços Secretos ilustra um modelo de cinema obviamente ligado às mais avançadas tecnologias (mesmo se custou apenas 81 milhões de dólares, valor “ridículo” neste tipo de produções), mas que nunca desiste de dois princípios vitais: um conceito coerente de acção e um apurado trabalho na definição dramática (sempre dramaticamente irónica) de cada uma das personagens.
Mantendo um tom de suave distanciamento, Vaughn consegue mesmo organizar o contagiante humor do seu filme como uma parábola discreta, mas tocante, sobre a camaradagem e a pertença a um grupo. Finalmente, podemos voltar a dizer que a grande aventura não desapareceu!