domingo, novembro 30, 2014

Nasceu um herói independente


Há atuações ao vivo que definem momentos de viragem (ou revelação). E se uma sala maior do Cinema São Jorge à pinha, mais extensa fila lá fora (quase a chegar à esquina da Rua do Salitre), davam conta, às onze da noite, de que havia expectativa no ar para ver Perfume Genius, a ovação e satisfação com que a sala se despediu pouco depois da meia noite não deixavam dúvidas: nasceu um novo herói independente. E podemos todos agradecer a Queen (brilhante single de apresentação do mais recente Too Bright), que fechou de forma intensa o alinhamento do concerto, o papel de catalisador de algo que o álbum veiculou e o concerto agora confirmou. 

Aquele que ali vimos era o mesmo Mike Hadreas que, há uns dois anos, apresentara um frágil e soberbo alinhamento de canções ao fim da tarde no palco secundário do Meco, um uma plateia dedicada, mas pouco numerosa. Vestia agora de preto, sapatos reluzentes, ora sentado frente ao teclado, ora de pé de microfone na mão, ora entre o sussurro de palavras íntimas e o grito visceral que projeta a ira com que ajudou a moldar as canções de um álbum que marcou o ano que está a terminar. Mostrava ainda maior confiança no enfrentar das plateias. Mas não esconde uma timidez natural nem volta as costas à forma como se expõe através das canções. O que mudou mais, afinal, foi a atenção com que agora muitos mais o seguem.

Sem corantes nem conservantes, sem aparatos, as canções falam por si e nele confirmam um dos grandes cantautores do nosso tempo. Ao cabo de três álbuns o projeto Perfume Genius tem já um corpo expressivo (e versátil) de temas que suportam um alinhamento que vinca, através de uma personalidade bem demarcada, um saber estar na música que celebra o que de melhor há na expressão das marcas de um autor: o ser único. E assim se fez a melhor noite de música ao vivo que vi em 2014.

Perfume Genius
Cinema S. Jorge - Vodafone Mexefest 2014