sexta-feira, outubro 31, 2014

Reedições:
Siouxsie & The Banshees

“Peepshow”
Universal
3 / 5

Foi há quase 40 anos... Corria o ano de 1976, Londres acolhia a vibração da revolução punk e uma das suas figuras mais marcantes dava uma primeira atuação no alinhamento do mítico 100 Club Punk Festival, não mostrando mais senão uma improvisação de 20 minutos em volta do tradicional The Lord’s Prayer... A estranha diva punk tinha a seu lado Steve Severin, juntamente com Sid Vicious e Marco Pirroni (que algum tempo depois seria o principal parceiro de Adam Ant)... Num caos em busca de nova ordem dava primeiros passos uma ideia que conduziria Siouxie Sioux e Severin a uma carreira que, de raízes punk, partiu rumo à construção de um espaço tenso e assombrado que, juntamente com alguns contemporâneos seus, acabariam por definir as bases do que então se veio a designar por rock gótico. Longe de se deixar definir por uma busca de identidade de género (musical, claro), o coletivo gravou uma sucessão de álbuns marcantes entre finais dos anos 70 e inícios dos 80, somando mesmo um êxito maior em 1983 com uma soberba versão de Dear Prudence, dos Beatles. Como sucede com tantas carreiras o viço criativo do coletivo foi esmorecendo com o tempo, na verdade o gume da mais interessante invenção musical de Siouxie e Budgie (outra das almas dos Banshees) desviou-se a dada altura para o projeto Creatures, que acabaria por sobreviver à separação da banda. Excluindo o belo single de cenografia grandiosa que, ao som de Face to Face, criaram em 1992 para Batman Returns, de Tim Burton, a reta final da vida dos Siouxsie & The Banshees trouxe-nos dois álbuns ali onde o mediano ameaça resvalar para pior. Apesar de um ou outro single interessante, a segunda metade dos oitentas em nada repetiu também as visões e grandes ideias de outrora. Mas entre toda essa etapa há que apontar um episódio que apresenta algumas canções ao nível das melhores do grupo. Apresentando com uma das melhores canções de toda a obra de Siouxsie – Peak A Boo, que nasceu do acaso de um erro em estúdio, quando uma bobina foi escutada da trás para a frente – Peepshow foi, em 1988, o derradeiro episódio marcante de uma obra que o tempo injustamente foi depois esquecendo – quando me falam de bandas na zona de uns Zola Jesus ou afins digo sempre que prefiro o produto original, e esse está aqui. Sem a teatralidade nem os jogos de ângulos e sombras dos primeiros álbuns, Peepshow é contudo um disco onde às heranças colhidas na sua própria experiência o grupo junta a busca de outros destinos, nomeadamente a placidez cinematográfica que emerge com belos resultados em The Last Beat of My Heart ou Carroussel. Estes são mesmo assim episódios que se destacam num alinhamento que não evita os sinais de algum cansaço que se vinham já a manifestar em discos anteriores e dominariam os dois álbuns que ainda estavam pela frente. Mesmo, assim, nem que apenas por Peek A Boo, já valeu a pena. A nova edição junta versões tiradas do alinhamento de máxis da época.