quinta-feira, julho 31, 2014

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“Red Hot + Bach”
Sony Music
4 / 5

Tal como há mil e uma maneira de cozinhar bacalhau, também são muitas as formas de abordar a música de Bach, das mais canónicas e respeitadoras interpretações de época a exercícios que juntam a personalidade de quem toca e marcas do tempo em que o faz. Assim, das leituras com fôlego criativo de pianistas como Glenn Gould ou Keith Jarrett às visões menos convencionais de Wendy Carlos (no histórico Switched on Bach, que apresentou o compositor à era das electrónicas), passando por transformações inesquecíveis como as que Uri Caine criou sobre as Variações Goldberg ou o projeto Lambarena no álbum Bach To Africa, o corpo de mutações cresce e alarga as partituras originais a outros tempos e outras formas. Não espanta assim que, na hora de ensaiar uma primeira abordagem em disco aos universos da música clássica, a Red + Hot Organization (que tem usado a música como forma de obter fundos para projetos de luta contra a sida) tenha escolhido Bach como matéria prima. Assim, e depois de ter já abordado os espaços do jazz hip hop, da country, da música latina, do pop/rock alternativo ou da força criativa de cidades como Lisboa ou o Rio de Janeiro e de ter criado tributos a nomes como Cole Porter, George Gershwin, Fela Kuti ou Noel Coward, a Red + Hot propõe agora Red Hot + Bach... O modelo é o do disco tributo que ali nasceu com o histórico Red Hot + Blue... Ou seja, juntam-se almas de várias origens, como Max Richter, Julianna Barwick, o violinista Daniel Hope, King Britt, Jeff Mills ou o Kronos Quartet, cada qual descobrindo na obra de Bach um instante que assim transformam, uns de forma mais deferente, outros em modos mais... radicais. Mia Doi Todd, por exemplo, “encontra” uma canção ao tomar como inspiração o Prelúdio em dó menor BWV. E Daniel Hope, num outro exemplo, sugere um diálogo entre um violino que escuta o célebre Air, da Suite Nº 3 em ré BWV 1068 e um contrabaixo (por Georg Breinschmid) que dança, com liberdade jazzística, ao seu redor... Na linha dos melhores volumes da série, Red Hot + Bach vive de pontes entre géneros, personalidades e talentos. Bach é um ponto de partida. E aqui vai bem para lá da linha do horizonte.