domingo, junho 08, 2014
Três olhares sobre Ravel por Pierre Boulez
A história recente da editora Deutsche Grammophon dá-nos um belíssimo exemplo de como se pode gerir, no século XXI, um catálogo essencialmente focado na música clássica. Por um lado há que assinalar uma abertura (atenta) a novos compositores – de Bryce Dessner a Johnny Greenwood, passando por Max Richter – em todos eles reconhecendo-se já as marcas de um tempo que não acredita em barreiras entre géneros musicais. E também o alargamento do catálogo a figuras exteriores aos espaços da música “erudita” (e nunca gostei deste “rótulo”, que faz parecer que não pode haver erudição nas outras músicas), como é o caso de Tori Amos, que ainda recentemente lançou o seu terceiro disco por esta editora. Ao mesmo tempo que alguns veteranos mantém uma carreira ativa, continua a fazer-se ali um trabalho de procura de jovens intérpretes – e nomes como os de Hillary Hahn ou Gustavo Dudamel já moram entre os consagrados – e de busca por outros horizontes instrumentais (Avi Avital ou Milos podem ser dois bons exemplos do que aqui falo). Outro dos espaços mais vivos no catálogo atual da DG centra-se em formas inteligentes de explorar o seu vasto arquivo. Assim nasceu, por exemplo, a série Re-Composed, que recentemente com Max Richter deu um passo em frente e ganhou outro fôlego. E de uma forma diferente de gerir esse mesmo vasto arquivo (com mais de cem anos de gravações) surge agora uma série de edições (limitadas) que, sob a designação comum ‘3 Classic Albums’ nos leva a redescobrir gravações célebres de figuras destacadas da história da editora. Pierre Boulez – que tem gravado para a DG sobretudo como maestro, sendo que recentemente foi também protagonista de uma caixa antológica da sua obra como compositor – é um dos nomes revisitados nesta nova série de arquivo. A seleção de três discos de Boulez escolhe três álbuns nos quais a música de Maurice Ravel (1875-1937) é colocada em evidência. São três edições originalmente editadas entre 1994 e 98, duas delas com a Berliner Philharmoniker, a terceira com a Cleveland Orchestra. Esta última apresenta-nos dois concertos compostos em inícios dos anos 30 e claramente influenciados pela descoberta do jazz (Krystian Zimermann é aqui o pianista). Os outros dois discos têm como peças centrais dos respetivos alinhamentos o monumental (e belíssimo) bailado Daphnis et Chloé (originalmente estreado em 1912 pelos Balles Russes de Diaghilev) e o célebre Boléro (uma obra de referência na história da música “repetitiva”). Apresentados em formato digipack, com um pequeno postal como “extra”, esta edição limitada representa um magnífico retrato breve da música orquestral francesa na alvorada do século XX.