Apesar de tudo, alguns "blockbusters" ainda conseguem fazer valer o gosto de contar histórias: No Limite do Amanhã, com Tom Cruise, é um desses casos — este texto foi publicado no Diário de Notícias (31 Maio), com o título 'Tom Cruise vive a vertigem de uma viagem no tempo'.
É bem verdade que algumas das mais recentes aventuras de ficção científica, típicas da “temporada de Verão” do cinema de Hollywood, têm dispensado o protagonismo das grandes estrelas. Tom Cruise é uma excepção, surgindo agora como o herói de No Limite do Amanhã (em exibição), uma saga de resistência a uma invasão de “aliens”, um ano depois de o termos visto nos cenários apocalípticos de Esquecido/Oblivion.
Dirigido por Doug Liman, No Limite do Amanhã demarca-se das convenções do género, quanto mais não seja porque propõe uma insólita viagem no tempo. Um pouco por toda a parte, tem sido referido algum paralelismo com O Feitiço do Tempo/Groundhog Day (1993), filme de culto de Harold Ramis em que Bill Murray interpretava uma personagem cuja vida era transformada numa vertigem imparável, vivendo e revivendo o mesmo dia da sua existência... De facto, algo de semelhante acontece com o major Wiliam Cage (Cruise), auxiliado por uma mulher das forças especiais do exército, Rita Vrataski (Emily Blunt), na liderança de uma missão contra os mais letais extraterrestres — assim, na sua primeira tentativa, Cage é morto para, logo a seguir, acordar de um pesadelo: cada vez que os acontecimentos são relançados, ele sabe um pouco mais sobre o que pode vir a acontecer.
A diferença fundamental em relação a O Feitiço do Tempo decorre, naturalmente, dos próprios “aliens”. Enquanto o filme de Ramis era uma variação paródica sobre matrizes clássicas da crónica social, No Limite do Amanhã aposta na criação de uma ambiência futurista em que a própria percepção das coordenadas temporais depende da acção dos extraterrestres. O filme acaba por superar as regras estritas da ficção científica, assumindo uma dimensão de “thriller” psicológico em que a antecipação mental, por parte de Cage, desempenha uma decisiva função dramática.
No Limite do Amanhã inspira-se em All You Need Is Kill, de Hiroshi Sakurazaka, “novela” ilustrada de origem japonesa, lançada em 2004 [capa]. Provavelmente, a origem desta inspiração poderá desempenhar um papel importante no impacto do filme, em especial no continente asiático. É um facto que, pelo menos desde Final Fantasy (2001), se consolidou a relação da produção americana com modelos mais ou menos fantásticos de inspiração oriental.
Alguns observadores da indústria de Hollywood antecipam mesmo a possibilidade de o novo filme de Tom Cruise acabar por conseguir as melhores performances comerciais fora dos EUA (como, aliás, já aconteceu com Esquecido). Uma coisa é certa: Tom Cruise vai continuar a explorar o trunfo da aventura, já que se encontra neste momento a trabalhar na pré-produção do quinto episódio de Missão Impossível, com lançamento agendado para o dia de Natal de 2015.