Róisín Murphy
“Mi Senti”
The Vinyl Factory
4 / 5
A música italiana chegou a merecer um estatuto de grande projeção no panorama da canção popular em meados do século XX. Nos oitentas, o italo disco e o italo house reabriram frestas de atenção para uma geografia musical que o tempo entretanto quase esquecera... E se bem que estes dois terrenos tenham gerado ocasionais descendências, surgido aqui e ali como influências, e havendo em cena mesmo alguns casos de popularidade mainstream made in Italy, a verdade é que o país (ao contrário de uma França ou Suécia) está longe de ser um alvo de atenções maiores no mapa atual da cultura pop. O facto de Róisín Murphy surgir agora com um EP em italiano (e cheio de abordagens a canções clássicas, porém reinventadas) não se deve a um contexto global, sendo antes fruto de uma vivência pessoal. Casada com Sebastiano Properzi, um produtor italiano, a cantora que em tempos descobrimos nos Moloko) saiu de cena por uns tempos para concentrar atenções na família. Durante esses dias foi escutando canções e descobrindo vozes e discos. E dessa soma de experiências acabou por nascer a ideia de um EP que, agora, a apresenta a cantar exclusivamente em italiano e revelando um leque de canções que deixa bem evidente que a cantora Mina foi uma das chaves da descoberta que gerou todo este projeto. Dela são três das canções que Róisín aqui reinventa em clima electrónico, do registo ambiental que reinventa Non Credere (de 1969) ao mais intenso discurso rítmico que suporta Ancora Tu (atualizando ecos do disco) e Ancora Ancora Ancora, ambas de 1978. A elaborada e versátil abordagem instrumental (que visita também ecos de várias “escolas” italianas) foi trabalhada entre Ibiza e Londres, na companhia de Properzi, definindo um corpo que a tem na voz a medula que tudo une. E enquanto Róisín Murphy não cria um sucessor de Overpowered (2007) este fica como o mais sólido momento da sua discografia (até agora, claro), neste compasso de espera.