A Natureza, hélas!, não é natural. Ou melhor: construímos a sua naturalidade na exacta medida em que podemos, ou sabemos, inscrever-lhe a nossa parte de humanidade que resiste à formatação dos dias. A transcendência do desafio pode estar, tão só, nas papoilas.
CLAUDE MONET Papoilas 1873 |
Desde o cão Roxy até à vibração secreta das papoilas, Adieu au Langage é o filme da (im)possível reconquista da Natureza como receptáculo de uma verdade que, face à cruel insuficiência das palavras, as imagens talvez ainda possam pressentir. E pensamos em Pierrot le Fou (1965) e no modo como os elementos naturais aí se revelavam numa espécie de derradeiro estertor de uma utopia em que a própria noção de Natureza se confundia com a errância, geográfica e filosófica, do ser humano — quase meio século depois, dizemos adeus à linguagem. Talvez mesmo ao cinema.
Pierrot le Fou (1965) |
JEAN RENOIR Le Déjeuner sur l'Herbe 1959 |