segunda-feira, maio 12, 2014

Novas edições:
Lykke Li, I Never Learn


Lykke Li 

“I Never Learn” 
Atlantic / Warner 
4 / 5 

Se é verdade que a Suécia é um espantoso berço de músicos pop, verdade é também que em Lykke Li temos uma das suas mais interessantes vozes pós-milénio, estatuto que se reafirma neste momento em que edita I Never Learn, um terceiro álbum de originais que, segundo se tem dito, representa a conclusão de uma trilogia que encetou em 2008 com o álbum de estreia Youth Novels e teve continuidade em 2011 em Wounded Rhymes. São discos relativamente diferentes entre si nas formas (o primeiro explorando diálogos discretos com eletrónicas, o segundo insistindo num maior labor na construção de uma arquitetura de percussões, este novo mais plácido e “clássico” na exploração do terreno da balada), mas claros na demarcação de uma voz muito própria e de uma forma de contar histórias de dor e resistência, algumas delas marcadas pela condição de ser mulher e do que, ela mesma explicou já, dela alguns por vezes esperam apenas por isso mesmo... Se o álbum de estreia surpreendera pelo valor evidente de uma personalidade distinta e o segundo mostrara uma capacidade de construir um novo ciclo de canções que mantivesse alta a fasquia do desafio artístico, este terceiro disco mostra-se talvez como o melhor do lote. É talvez menos ousado nas formas musicais, recorrendo a fontes instrumentais e arranjos mais austeros e próximos de um certo classicismo pop (com a guitarra mais evidente que outrora, porém partilhando o palco com outros instrumentos). Mas não só reflete um apuramento da escrita como junta a melhor das três coleções de canções que Lykke Li já levou a disco em nome próprio. É um disco assombrado pela dor e telhado em tons de uma melancolia que abraça a música e a voz de fio a pavio. Não será o monumento que Beck talhou no recente Morning Phase, mas mostra que há aqui alguém capaz de fazer algo num mesmo comprimento de onda. E com belos resultados.

PS. Este texto foi originalmente publicado na edição online do DN