segunda-feira, maio 12, 2014

Em conversa: Dean Wareham (2)

Este texto é mais um excerto de uma entrevista com Dean Wareham que foi publicada na edição de 6 de maio do DN online. 

O tempo dá-nos uma distância para ver as coisas de uma maneira diferente. Como vê hoje os Galaxie 500, cujos discos são vistos como peças marcantes na história da cultura indie? 
Na altura éramos apenas uma entre muitas bandas. Mas aqueles discos envelheceram bem. E se vimos uma lista dos discos que saíram naquela altura, entre 1988 e 1989, acho que os álbuns dos Galaxie 500 são tão bons como as coisas que saíram por essa altura. E com o tempo cresceram. Porque eram diferentes. Não éramos grunge

Nessa altura a produção em voga era consideravelmente pesada e optaram por algo diferente: o minimalismo. 
Havia outras bandas a influenciar-nos nessa altura, como os Joy Division e New Order. Mas também os Dream Syndicate, os Feelies. Havia gente a fazer coisas parecidas. Mas a nossa música era mais triste, e também mais divertida. 

Hoje todos os grupos separados eventualmente se reúnem. Os três ex-Galaxie 500 já pensaram nisso? 
Já me ocorreu essa ideia. Mas não sei... Não nos dávamos bem, O número três numa banda é difícil. Se fosse uma banda de quatro elementos... Seriam quatro pessoas diferentes, e haveria quatro maneiras diferentes de gerir as tensões. Mas numa banda de três elementos não havia uma dinâmica saudável. 

E Damon e Naomi eram já uma equipa?
É verdade. E não funcionávamos bem como uma democracia. 

E a solo não precisa de democracia... 
Sim... Mas ao mesmo tempo dependo da contribuição dos músicos que tive neste disco. Por exemplo, eu não sei tocar bateria para dizer a um baterista o que este deve fazer. Preciso por isso de encontrar as pessoas certas. 

Como surgiu a ideia para criar música para os secreen tests de Andy Warhol, que concebeu juntamente com Britta Phillips? 
O Andy Warhol Museum contactou-me. Era uma encomenda. Poucas pessoas tinham visto aqueles filmes, e era uma parte importante do que ele fez em cinema. E tiveram a ideia de um espetáculo ao vivo que, de resto, apresentámos em Portugal no festival de curtas metragens em Vila do Conde. 

É certamente um trabalho diferente daquilo que se tem de fazer ao criar a banda Sonora para um filme novo... 
Sim é quase como fazer telediscos, mas ao contrário. A diferença é que a música toca durante todos os quatro minutos, ao passo que numa banda sonora a música entra e sai de vez em quando. 

É interessante criar música para imagens? 
Quando se faz um teledisco a música é quem manda. Fazem-se imagens a pensar numa música. Quando se faz música para cinema o filme é quem lidera. Por isso é preciso saber o que está a acontecer no filme. E basta que seja uma pessoa a sorrir para a câmara... O filme aqui é quem dita. Música e imagens juntas são algo muito poderoso. Quando se sai de um filme no qual se gostou da música chega-se a casa, tocamos a música e apercebe-mo-nos de que a música por si só não é tão boa. 

E como é a experiência para o próprio músico? 
Quando é um bom filme é uma grande experiência. Quando se trabalha com um grande realizador é bom, Mas acho que um ator diria o mesmo. 

É cinéfilo? 
De certa maneira. Não é a minha vida. Mas estou interessado nos grandes realizadores europeus e americanos. 

Escreveu há poucos anos um livro. Uma autobiografia... 
Ainda bem, que o fiz antes que alguém, o fizesse. 

Muitas respostas a entrevistas futuras podem estar nesse livro, que tem por título Black Postcards? 
Sim sim... (risos) É verdade, está lá tudo. Foi preciso usar outro lado do meu cérebro. E deu-me um outro respeito pelos escritores e até mesmo pelos críticos de música rock. Aquela coisa de uma pessoa se sentar e expressar mesmo aquilo em que pensa é difícil. É corajoso, de uma forma que escrever letras para canções não o é, porque de certa maneira aí acabamos por nos esconder.

Leu outros livros de outros músicos antes de escrever este seu?... O Apenas Miúdos, de Patti Smith, saiu depois... 
Sim, e esse está maravilhosamente escrito. É muito diferente do meu, é mais sobre a arte. O meu é mais sobre a experiência de estar numa banda. O que li mais?... Li a biografia do Dee Dee Ramone. Nota-se quando é a própria pessoa a escrever ou quando há alguém a ajudar. Li o livro de Glenn Matlock, dos Sex Pistols. Há muitos livros. Há mesmo muitos desde o sucesso da biografia do Keith Richards. 

A sua escrita de canções é autobiográfica? 
É diferente. Não é bem uma autobiografia... Dentro daquelas canções há esperanças, desejos experiências que tive. Mas também pode ser algo que alguém tenha dito num programa de televisão.