A secção "Cannes Classics" há muito que deixou de ser um mero repositório de curiosidades mais ou menos "antigas". Com o incremento do restauro de filmes, visando novas cópias digitais, o festival tem servido de montra para muitos títulos que, afinal, correspondem a uma memória já distante das mais jovens gerações de espectadores — este ano, por exemplo, assinalou-se o 30º aniversário de Paris, Texas, de Wim Wenders (Palma de Ouro em 1984). Esta imagem a preto e branco pertence a Angst/O Medo (1954), de Roberto Rossellini, segundo Stefan Zweig, com Ingrid Bergman e Mathias Wiedman, por certo um dos momentos mais emblemáticos entre os clássicos (re)vistos em 2014 — uma crise conjugal encenada como exposição cruel da ambivalência dos corações humanos; para a história, hélas!, ficou também como o filme que consumou a ruptura do casal Bergman/Rossellini.