Para Godard, o 3D no cinema não decorre de uma qualquer nostalgia da pintura renascentista. Não se trata de caucionar o cinema pela pintura. Daí que Adieu au Langage esteja mais próximo do labor de Orson Welles com a profundidade de campo — lembremos não apenas o emblemático Citizen Kane/O Mundo a seus Pés (1941), mas também o quase sempre esquecido The Magnificent Ambersons/O Quarto Mandamento (1942) —, do que de qualquer derivação pictórica, ainda menos das aventuras contemporâneas de "super-heróis". No limite, duas mãos, a água e algumas folhas secas podem ser suficientes para conferir ao ecrã a espessura de uma aparição que desafia a respiração do próprio espaço. O cinema reinventa-se, assim, como regresso ao sagrado da imagem.
THE MAGNIFICENT AMBERSONS (1942) |