quinta-feira, abril 03, 2014

Reedições:
Elton John, Goodbye Yellow Brick Road

Elton John
“Goodbye Yellow Brick Road (40th anniversary edition”
Universal
4 / 5 

Candle in The Wind, Bennie and The Jets, Goodbye Yellow Brick Road... A sucessão de títulos parece coisa de um best of de Elton John, mas estes são títulos assim consecutivamente arrumados no alinhamento de um álbum duplo que o cantor editou em 1973 e que, transformado num dos seus maiores êxitos e muitas vezes apontado como a sua obra-prima, regressa hoje numa edição (ver caixa) que junta uma série de extras, entre os quais reinterpretações de algumas das suas canções por nomes como os de Miguel ou John Grant.

Sucessor de Don’t Shoot Me I’m Only the Piano Player (1973), que lhe dera os primeiros números um nas tabelas de vendas de álbuns no Reino Unido e Estados Unidos, o disco começara por ser pensado como uma experiência por outros ares. Depois de os Rolling Stones terem gravado a maior parte de Goats Head Soup (também de 1973) na Jamaica, Elton, o letrista Bernie Taupin e entourage rumaram a essas mesmas paragens. A temporada no Dynamic Sound Studio, em Kingston, foi contudo menos bem-sucedida que a dos Stones, chegando a equipa em pleno tempo de conflito laboral entre os funcionários do estúdio (também uma editora e fábrica de discos) e o patronato. Quando tentavam entrar no estúdio os profissionais atiravam-lhes “fibra de vidro esmigalhada”, o que deixou muitos com “erupções cutâneas”, explica o próprio Elton John no booklet da nova reedição. Lá dentro não havia microfones e a cada avaria falava--se em dias para a resolver. De malas aviadas acabaram por regressar aos estúdios no Château d’Herouville (França), onde tinham já trabalhado (e onde tanto Sérgio Godinho como José Mário Branco haviam já registado discos).

Gravado e misturado em apenas 17 dias, incluindo algumas canções que Bernie e Elton tinham composto na Jamaica, Goodbye Yellow Brick Road  nasceria na forma de álbum duplo a 5 de outubro de 1973. Imponente nos arranjos, seguro na composição (confirmando um momento de forma da dupla autoral), o disco vai dos espaços de grandiosidade do glam rock a terrenos de elegante sinfonismo pop, pelas suas canções passando sobretudo histórias e figuras trágicas como Marilyn Monroe (em Candle in The Wind), uma prostituta (Sweet Painted Lady) e o assassinado Danny Bailey. Em All the Girls Love Alice Elton John junta-se a David Bowie e Lou Reed ao assinar mais um entre os primeiros retratos de homossexuais na forma de canções pop.

Bernie Taupin descreveu este disco como a “raiz kármica” da música de Elton John. “Gostava de ter histórias de terror” para lembrar a criação do álbum, graceja Elton no booklet. Mas na verdade, sublinha, “foi bem divertido” de fazer. Mais de 40 anos depois ainda se sente o brilho dessa aura num alinhamento que, de facto, representa o melhor da obra de Elton John.

A edição comemorativa dos 40 anos do álbum surge em vários formatos, uns com mais extras do que outros. A versão standard, na forma de CD duplo, inclui um concerto no Hammersmith Odeon em 1973 e um tributo que apresenta versões para nove temas do álbum em novas vozes. Candle in The Wind é reinventada por Ed Sheeran e Sweet Painted Lady surge em nova leitura por John Grant. O tributo apresenta ainda Bennie and The Jets por Miguel e Wale, All The Girls Love Alice por Emily Sandé e Saturday Night's Alright for Fighting pelos Fall Out Boy. Na verdade, além da leitura de John Grant, nenhuma é particularmente motivadora.

PS. Este texto foi originalmente publicado na edição de 30 de mar do DN com o título 'Elton John pela estrada #dos tijolos dourados'