Liars
“Mess”
Mute Records
4 / 5
Descobrimos os Liars quando o mundo voltou a descobrir Nova Iorque como um dos mais agitados focos de atividade e imaginação, Brooklyn ocupando então o centro de uma georgrafia de atenções que antes se centrara em Manhattan, seja com a cultura folk no Greenwich Village dos sessentas ou com a alvorada do punk nos setentas, com o East Village a chamar atenções (e o CBGB como centro maior de gravidade dos acontecimentos). Como os Yeah Yeah Yeahs ou The Rapture (estes com berço em finais dos noventas), os Liars apresentavam-se na alvorada do milénio com uma sonoridade abrasiva e angulosa, dominada pelas guitarras (mas já sob uma presença interessante das electrónicas) que lhes chegaram a valer eventuais comparações com os Gang of Four como referencia. O tempo fê-los caminhar rumo a um progressivamente mais evidente interesse pelas electrónicas e por um mais cuidado trabalho no plano das texturas e construção de ambientes, com um primeiro exemplo de excelência no domínio de uma noção de canção “ambient” alcançado em The Other Side of Mt. Heart Attack, no fim do alinhamento do álbum Drums Not Dead (2006), sugerindo primeiras linhas de trilhos que aperfeiçoaram e levaram a um plano superior no magnífico WIXIW, editado em 2012. Mess, o sétimo álbum de estúdio dos Liars é o seu sucessor e, apesar de igualmente caracterizado por um protagonismo das electrónicas, é um disco pensado nos antípodas desse álbum de há dois anos. A melancolia plácida de WIXIW cede aqui lugar a um outro estado de alma, mais tenso e intenso, mais vincado no discurso rítmico (apesar do trilho “narrativo” do alinhamento nos conduzir, com o evoluir dos acontecimentos, a um palco menos agitado que aquele que nos acolhe ao som de Mask Maker e demais temas na abertura do disco, propondo mesmo uma segunda parte menos límpida nas formas, mais desafiante e com sabor a uma vontade maior de experimentar). A paleta cromática pisca claramente olhos a sonoridades de referência da pop electrónica dos oitentas. Porém, e tomando como exemplo o recente álbum de Trust, o novo disco dos Liars não se limita a desenhar sugestões de deleite (nostálgico de um tempo que não viveram), procurando antes integrar os ecos que evoca num quadro contemporâneo e numa linguagem mais sua que colhida entre referências. Escute-se, por exemplo, Vox Tuned DED e observe-se como moldam heranças da sonoridade de um Gary Numan de finais de 70 a um álbum de 2014. Já em I’m No Gold procuram caminhar em diálogos entre tesouros da primeira geração electro. Talvez o disco não repita a surpresa maior de WIXIW (até ver a obra-prima dos Liars), mas traz-nos uma espantosa coleção de canções e um saber na revisitação de outros tempos que ultrapassa as lógicas de vénia ou citação mais habituais.