François and The Atlas Mountains
“Piano Ombre”
Domino / Edel
4 / 5
As geografias por vezes baralham por vezes as ideias feitas que possamos ter sobre o relacionamento da música e dos músicos têm com os contextos, referências e hábitos dos lugares ao seu redor. O projeto François & The Atlas Mountains pode por isso ser um bom exemplo de como a comunicação na idade global fez da música uma realidade sem fronteiras nem barreiras, até mesmo quando uma língua que não a inglesa (a língua-franca da música pop) entra em cena. François Marry, de origem francesa (e um dos elementos da banda que acompanha em palco os Camera Obscura) estudou em La Rochelle mas mudou-se para o outro lado do Canal da Mancha, residindo hoje em Bristol, onde este seu projeto tem assim a sua “sede”. Depois de dois primeiros discretos álbuns entre 2006 e 2009, o terceiro disco, E Volo Love, de 2012, serviu de cartão de visita a uma mais vasta plateia, o novo Piano Ombre propondo agora novo episódio numa história em regime de evolução na continuidade. Um agradável sentido de ecletismo caracteriza a coleção de dez canções que traduzem um gosto cénico elaborado, que faz da caminhada entre o alinhamento uma experiência que transcende fronteiras de género e concilia formas mais clássicas da canção com uma instrumentação que sabe escutar a presença de guitarras, eletrónicas e elementos de outras origens (muitas vezes sugerindo um certo encanto pelos exotismos de além-pop), a coexistência do francês e do inglês amplificando a paleta cromática. Piano Ombre é um disco de canções de fina marcenaria na escrita e de atenção pelo detalhe na arte final. Está longe das tendências e das modas, mas é um belo exemplo de como a canção pop é ainda uma fonte de infinitas possibilidades
PS. Exte texto foi publicado na edição online do DN