terça-feira, abril 01, 2014

Nos 40 anos dos Ramones


Este texto foi originalmente publicado na edição de 30 de março do DN com o título ‘Concentrado de ideias ao serviço de uma revolução no rock’n’roll’.

Quando o mundo inteiro os descobriu, em abril de 1976, ao som de Blitzkrieg Bop (e outros temas do álbum de estreia, como Beat on the Brat ou I Wanna Be Your Boyfriend), já os Ramones eram uma “instituição” no palco do CBGB e tinham influenciado contemporâneos seus (dos Sex Pistols aos Wire), num processo que levou os sinais revolucionários do punk para lá do East Village nova-iorquino, criando mesmo um dos movimentos maiores que a cultura pop gerou nos anos 70, com expressão bem evidente entre nós em finais da década e no início dos oitentas. Lembro-me sobretudo de ver o álbum ao vivo It’s Alive, de 1979, nas coleções de discos dos que, por esses dias, estavam mais atentos a movimentações no rock.

Em 1975, ainda sem discos nem nome feito para lá de alguns pequenos clubes em Nova Iorque, mas já com uma aura de culto gerada depois de uma crítica favorável no Village Voice, os Ramones entusiasmaram o jornalista que o semanário musical britânico Melody Maker destacara para cobrir o festival de bandas sem contrato que nesse verão teve lugar no CBGB. Reparando que a imprensa local os tinha descrito como “potencialmente a maior banda de singles desde os Velvet Underground”, Steve Lake apontou que haviam feito história com um alinhamento fenomenalmente compacto no CBGB no qual tinham apinhado seis canções em 13 minutos de performance”... Eram expressão do seu tempo e do seu lugar. E das verdades maiores dessa identidade que nunca procuraram contrariar nasceu uma alma que se fez referência e uma imagem que se tranformou num ícone.

O grupo surgiu em inícios de 1974 em Forest Hills (um bairro de classe média em Queens, em Nova Iorque), juntando John Cummings e Thomas Erdelyi, antigos colegas de uma banda nos dias de liceu, Douglas Colvin, um vizinho recentemente chegado da Alemanha, e Jeffrey Hyman, um outro amigo que tinha sido vocalista numa banda de glam rock de vida curta. Inspirado pelo facto de McCartney ter usado o pseudónimo Paul Ramon na pré-história dos Beatles, Douglas adotou o nome Dee Dee Ramone. E em pouco tempo levou os colegas a tomar o mesmo apelido. Todos os Ramomes seriam... Ramone.

A 30 de março de 1974 atuaram pela primeira vez perante uma plateia, nos Performance Studios. A 16 de abril subiam ao palco do CBGB, em poucos meses tornando-se uma das bandas “da casa” e dali partindo para, apesar do relativamente discreto impacte comercial na época, se afirmarem como uma das bandas mais influentes da história do rock’n’roll.

As canções concisas e concentradas dos Ramones cruzavam heranças escutadas ora em discos dos Beatles e Elvis ora em singles de surf rock e de girl groups dos anos 60 ou ainda referências elétricas mais “pesadas” do período proto-punk, juntando ideias sob uma lógica comum: fazer curto, rápido e simples. Juntando uma das peças maiores no tabuleiro da revolução punk, os Ramones ajudaram uma geração (e as seguintes) a aprender a dizer “não”. Contudo, e como nota Nicholes Rombes num volume dedicado ao álbum Ramones, na série 33 1/3, “os Ramones imbuíram o vazio e a rejeição [da geração punk] com um sentido de humor que transportou o niilismo para o patamar da cultura pop”.

A história do grupo, que discograficamente esteve ativo até 1995, ano em que editaram Adios Amigos!, conheceu várias mudanças de formação (Tommy Ramone, que se afastou em 1978, é hoje o único elemento vivo da formação original). Contudo, contra o percurso de bandas suas contemporâneas que acabariam por evoluir rumo a outras direções, a música dos Ramones manteve-se sempre fiel à sua identidade original. 

Sem a alma política à esquerda da cultura hippie dos anos 60 nem a procura de caução “elevada” num plano artístico mais eloquente do rock progressivo, as observações e visões de quatro filhos da classe média que, nascidos nos subúrbios, voltavam a descobrir a vida do centro da cidade, cativaram uma nova geração de ouvintes e de músicos. A cor pop que animava as suas canções gerou inúmeras descendências e a simplicidade das suas ideias foi para muitos uma força motivadora. Eddie Vedder (Pearl Jam) terá dito (segundo a Brainy Quote) que quando tinha 13 anos e recebera a primeira guitarra não conseguia tocar os solos de Ted Nugent. Mas era já capaz de acompanhar canções inteiras dos Ramones.