quarta-feira, abril 30, 2014

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Ex Hex, Hot and Cold



Nova banda em cena, ainda sem álbum de estreia na linha do horizonte. Mas já com teledisco a servir aperitivos.

Novas edições:
Pixies, Indie Cindy


Pixies
“Indie Cindy”
Pixiesmusic
2 / 5

Não que todas as “tradições” sejam sempre implacavelmente cumpridas por tudo e todos, mas a verdade é que, desde que a ideia da reunião de bandas se transformou numa certa rotina – e é já quase uma situação esperada, como os encores no final dos concertos – raras foras as ocasiões em que daí surgiu música verdadeiramente interessante e ao nível do que os mesmos músicos haviam criado anos antes. Separados no início dos noventas, os Pixies reuniram-se em 2004 para dar concertos que não mais procuraram que devolver à vida as canções de uma obra registada em disco que, entre o EP Come on Pilgrim (1987) e o álbum Trompe Le Monde (1991) definiu uma referência maior em terreno indie rock, gerando descendências e um culto que reagiu com entusiasmo à reunião e encheu plateia atrás de plateia. Os concertos e as digressões sudederam-se, sem sinais de vontade em criar algo de novo além do single Bam Thwok, lançado em 2004 por ocasião do Record Store Day. Mas em 2013, poucos dias depois de tornada pública a saída de Kim Deal, lançavam novo single e, de então para cá, três EPs com temas inéditos. O primeiro EP até dava conta do recado. O segundo não mostrava muito mais. Mas reunidas agora num mesmo alinhamento, as canções mostram um grupo tecnicamente competente, mas pouco dado a ir além do que era uma certa assinatura pela qual fez as canções que inscreveram o seu nome na história da música popular. Um dos textos críticos publicados (nos EUA) chegou a comparar Indie Cindy a uma eventual banda de covers dos Pixies. Não iria tão longe. Em Andro Queen, do alinhamento do EP1 (e agora o melhor momento do álbum), apresentam mesmo uma das suas melhores canções de sempre, em temas como Greens and Blues, Ring The Bell ou Madgalena 318 recuperando o melodismo irresistível com o qual muitas vezes cantaram temas com palavras mais sombrias. Comparando o lote de temas com os que habitavam os álbuns anteriores verificamos não apenas a realidade de uma colheita menos vitaminada e uma dispersão de ideias entre as marcas de identidade de vários desses discos em detrimento de uma mais aprumada lógica de álbum que afinal definia, mesmo entre a diversidade de formas, discos célebres como Surfer Rosa ou Doolittle. Não dão o tropeção que os Bauhaus protagonizaram quando decidiram gravar novos inéditos. Mas convenhamos que, além de uma dúzia de canções, Indie Cindy nada de verdadeiramente novo junta à obra dos Pixies.

'Star Wars: Epidode VII'... a ler o guião

David James
Foi divulgado o elenco do que será o Episódio VII de Star Wars, cuja rodagem começa este mês. A fotografia, apresentada no site oficial de Star Wars, apresenta atores e alguns elementos da equipa técnica numa reunião nos estúdios Pinewood, em Londres na qual leram o guião do filme. E confirma o regresso de elementos da trilogia original, nomeadamente Mark Hamill (Luke Skywalker), Carrie Fisher (Princesa Leia), Harrisson Ford (Han Solo), Anthony Daniels (C3P0), Peter Mayhew (Chewbacca) e Kenny Baker (R2-D2). 

Na imagem vemos J.J Abrams (em cima, ao centro da imagem).Ao seu lado, e pela ordem dos ponteiros do relógio vemos Harrison Ford, Daisy Ridley, Carrie Fisher, Peter Mayhew, o produtor Bryan Burk, a presidente da Lucasfilm e produtora Kathleen Kennedy, Domhnall Gleeson, Anthony Daniels, Mark Hamill, Andy Serkis, Oscar Isaac, John Boyega, Adam Driver e o argumentista Lawrence Kasdan.

Clássicos da Eurovisão:
Abba (1974)

Este texto é uma versão editada de um outro que foi publicado na edição de 8 de abril do DN com o título 'Abba celebram 40 anos da vitória na Eurovisão'

Brighton, 6 de abril de 1974. As canções da Holanda (I See A Star, de Mouth & McNeal) e do Reino Unido (Long Live Love, por Olivia Newton John) partiam como favoritas para o Festival da Eurovisão (que tinha em E depois do adeus, de Paulo de Carvalho, a representação portuguesa). Mas no final da votação a italiana Gigliola Cinquetti (que tinha vencido dez anos antes com a canção Non ho l'eta, precisamente no ano em que Portugal se estreava no concurso, com António Calvário) surgia em segundo lugar com o tema Si e a vitória cabia a um grupo sueco do qual, fora das fronteiras do seu país, nunca antes ninguém havia ouvido falar. Chamavam-se Abba, apresentavam-se ao som de Waterloo e sagravam-se os grandes vencedores da noite. 

O certame já tinha feito do Volare de Domenico Modugno (Itália, 1958) ou de Puppet on a String de Sandie Shaw (Reino Unido, 1967) verdadeiros êxitos planetários. Tal como o havia sido, inclusivamente com impacte nos EUA (onde chegou ao número 9) o tema Eres Tu, dos Mocedades, que tinha levado a Espanha ao segundo lugar em 1973.Mas nunca antes nem depois o Festival da Eurovisão lançou uma carreira como a dos Abba.

O grupo, com o nome Agnetha, Anni-Frid, Benny & Björn, já tinha discos desde 1972 (quando se estrearam ao som de People Need Love) e em 1973 havia tentado o Festival da Canção sueco, sem contudo o vencer com a canção Ring Ring. Em 1974 Waterloo assinalava a sua estreia como ABBA (cada letra representando as iniciais do nome de cada um dos músicos) numa abordagem eficaz aos modelos então em voga do glam rock, levando-os - naturalmente depois do impacte do triunfo eurovisivo - ao primeiro lugar em inúmeros países e ao top 10 americano, somando o single vendas na ordem dos seis milhões de unidades.

Waterloo surgiu de um convite da própria TV estatal sueca para que o grupo concorresse novamente ao festival local. E Stig Anderson - o manager e grande entusiasta da mudança de nome do quarteto para Abba - deu luz verde à ideia, concordando que o certame seria uma boa plataforma de exposição internacional e que o ideal seria submeterem uma canção "feliz" e ritmada. Björn Ulvaeus e Benny Andersson retiraram-se para a ilha de Viggsö (no arquipélago de Estocolmo), onde de resto trabalhariam regularmente daí em diante. Como método de trabalho tinham sessões conjuntas em que, horas a fio, iam tocando notas e acordes na guitarra e ao piano, cantarolando ideias de melodias. Estavam em novembro de 1973 e dali saíram com dois temas, um deles acabando por ser escolhido. Mas faltava a letra e o título. Stig Anderson começou por tentar Honey Pie, mas depois achou "Waterloo" num livro de frases e citações, referindo a batalha que derotara definitivamente Napoleão em 1815.

Na noite do Festival da Eurovisão, em Brighton (no Reino Unido), Waterloo somou 24 pontos (um dos quais atribuído pela votação Portugal, num tempo em que cada país tinha 10 pontos por distribuir, com o entendesse, pelas canções concorrentes) e venceu com seis de avanço sobre a Itália.


Em 1986 os Doctor and The Medics assinaram uma versão de Waterloo musicalmente não muito afastada da leitura original (salvo um final instrumental mais longo e em regime que pisca olho ao festim glam rock), mas visualmente acompanhada por um teledisco que visita não apenas a iconografia eurovisiva como a dos próprios Abba.

Pet Shop Boys em diálogo com os KLF

O lote de colaboradores com os quais os Pet Shop Boys trabalharam ao longo dos anos é impressionante, em muitos casos juntando parcerias em momentos maiores nas vidas de ambos os envolvidos. Foi o caso dos KLF, a quem foram confiadas remisturas de So Hard e It Must Be Obvious, inéditos lançados em single em 1990. As remisturas surgiram num máxi-single e CD single sob a assinatura conjunta The KLF versus Pet Shop Boys.

terça-feira, abril 29, 2014

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We Are Catchers, Tap Tap Tap



Chegam de Liverpool e lançaram há poucas semanas o seu álbum de estreia. Aqui fica um tema para os podermos ir descobrindo.

Novas edições:
Kelis, Food

Kelis
“Food”
Ninja Tune
4 / 5 

Nada como um bom golpe de rins para suportar uma viragem de rumo e seguir por um melhor caminho... Foi o que Kelis fez nos últimos quatro anos, o novo álbum Food em nada seguindo o rumo electro dance que definira a alma central do anterior Flesh Tone (disco de 2010 que tivera em Acapella uma das melhores canções que esse território nos deu nesse momento de passagem para a segunda década do século). Aliando-se a David Sitek (dos TV on The Radio), que assegurou a produção, e procurando desta vez referências entre as heranças maiores do R&B clássico dos sessentas (escola Stax, acima de tudo), Food é um disco de canções que respiram vistas largas, com arranjos que cruzam a presença de metais (ocasionalmente também cordas) com uma linguagem rítmica que procura o calor da pulsação “clássica” do entendimento entre a percussão e o baixo. A experiência de Kelis junto a espaços mais próximos da cultura pop/rock – nos últimos anos gravou com os Duran Duran e partilhou palcos com Moby ou Robyn - acaba por transparecer num disco que vibra essencialmente em terreno R&B de alma vintage, mas acolhe em vários instantes um saber no diálogo com mecânicas da canção pop (como de resto o fizeram algumas almas de escola soul nos sessentas) e mostra até, ao som de Bless The Telephone, como uma voz como a da cantora norte-americana pode assimilar ecos da folk. Acrescente-se um trabalho de produção que assegura uma perfeita definição das sonoridades presentes e garante também janelas de comunicação evidentes com o presente (não estamos por isso perante um álbum com intenções “retro” apesar do classicismo com que veste as canções) e preparemo-nos para encontrar em Food – que assinala a estreia de Kelis no catálogo da mui visionária Ninja Tune – aquele que é talvez o melhor disco nascido de território R&B desde o belíssimo Kaleidoscope Dream, de Miguel.

O que procuramos nas ruinas? (1)

Este texto, sobre a exposição 'Ruin Lust' patente na Tate Britain, em Londres, foi originalmente publicado na edição de 19 de abril do suplemento Q. do DN, com o título 'Olhar o Passado e o Futuro Entre as Ruinas'. 

Tons de vermelho sugerem a fúria da violenta erupção explosiva que, no ano 79 da nossa era, apagou do mapa as cidades romanas de Pompeia e Herculano na região da atual Nápoles. Cidades que voltariam a ver a luz do dia apenas em 1748, desde então as suas ruínas tendo-se tornado das mais célebres relíquias daquilo que era vida urbana de um outro tempo. A seu lado, uma fotografia a preto e branco revela o “corpo” magoado de um velho bunker dos tempos da II Guerra Mundial. The Destruction of Pompeii and Herculaneum, pintada em 1822 por John Martin, e Azeville 2006, de Jane e Louise Wilson, são dois exemplos expressivos de um encantamento que em nós geram estas imagens que sugerem não apenas os ecos da destruição que retratam, mas a ordem que antes prevalecia. É assim que entramos em Ruin Lust, exposição temporária que a Tate Britain (em Londres) tem patente até maio.

No pequeno guia que nos é dado para as mãos ao entrarmos na exposição somos desde logo colocados perante uma visão que, de certa forma, justifica a ideia que motivou a sucessão de salas que temos pela frente: “As ruínas são curiosos objetos de desejo” porque nos “seduzem com decadência e destruição”. Como sugere ainda esse texto, as ruínas lembram-nos de passados gloriosos assim como apontam o colapso, num futuro, do que é a nossa cultura do presente. E é desse reunir de obras que expressam uma atração contemplativa pelo passado e de outras que nele procuram avisos para projetarmos adiante que se vive o percurso de oito salas que o museu nos propõe e sobre o qual editou um pequeno catálogo que apresenta e arruma um conjunto de ideias sobre a história do nosso relacionamento com as ruínas enquanto matéria de inspiração e reflexão de artistas e pensadores.

A expressão “Ruin Lust”, que dá título à exposição, provém do alemão ruinelust e traduz um certo fascínio pelas ruínas (e consequentemente formas de as representar). E é desse fascínio, inicialmente focado em olhares sobre o passado, que somos acolhidos por obras como a já referida pintura de John Martin sobre Pompeia, ou Sketch for the Haldeigh Cathedral, de John Constable, que se mostram logo na sala que lança o percurso.

O gosto pelas ruínas é uma invenção pós-medieval. As ruínas clássicas foram inspiradoras para poetas, pintores e arquitetos do renascimento. Mas um certo encantamento pela sua representação ganhou expressão maior no século XVIII, havendo até depois uma etapa que assistiu à construção de ruinas falsas em novos jardins. No século XVIII, artistas como, por exemplo, Piranesi (de quem vemos, na segunda sala, uma célebre representação do Coliseu, em Roma), partiram das representações de ruínas para retratar a queda de antigas civilizações. Mais tarde artistas como J.M. W. Turner ou John Sell Cotman viajaram por espaços rurais em busca de olhares pitorescos sobre ruínas medievais. Em comum os olhares destes tempos partilhavam a expressão de “ansiedades sobre o presente e o futuro”, como sugere o mesmo texto que acompanha a exposição.

(continua)

IndieLisboa 2014 (4):
Contos de verão

Este texto é uma versão editada de um outro originalmente publicado no DN com o título 'A memória como matéria prima'.

Cruzar o que parecem ser ecos dos “contos” de Rohmer com recordações de vivências de juventude vividas nos anos 90 pode ser um modo de entender uma das longas-metragens que esta edição do IndieLisboa apresenta fora de competição.

L For Leisure , de Lev Kalman e Whitney Horn é uma coleção de fragmentos que imaginam momentos vividos em dias de calor entre 1992 e 93, entre estudantes em férias que ora discutem a vida ora se entregam à preguiça num registo que cruza um certo humor (que o tom bad acting sublinha) com as cores fortes do verão (captadas em 16 mm) e uma banda sonora que pisca o olho a saborosos momentos dream pop. Entre os atores surge o Gabriel Abrantes (que nesta edição do festival apresenta também uma curta).

Umja entrevista em forma de disco

Um entre os vários objetos promocionais criados para assegurar a exposição mediática dos Pet Shop Boys. Com o título Talk é simplesmente um CD com a gravação de uma entrevista destinada à sua eventual utilização em programas de rádio por alturas do lançamento do álbum Bilingual, em 1996. Nesta entrevista, que aqui surge apenas na forma de respostas curtas e prontas a usar, o grupo fala da carreira, do álbum e apresenta as novas canções uma a uma.

segunda-feira, abril 28, 2014

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tUnE-yArDs, Water Fountain



Aperitivo para o novo álbum do grupo, Nikki Nack, a editar muito em breve. O teledisco é assinado por Joel Kefali.

Novas edições:
Damon Albarn, Everyday Robots


Damon Albarn
“Everyday Robots”
Parlophone
4 / 5

Há 20 anos a música pop made in England preparava-se para entrar em “guerra”. Pelo menos era assim que se retrataria, em 1995, o que parecia um combate entre os dois grupos ingleses que mais paixões acendiam nesse momento em que se começava a falar de um novo valor “caseiro”: chamaram-lhe brip pop. As armas contavam-se entre os dois “rivais”. De um lado, os Oasis. Do outro, os Blur. Na verdade repetindo aquela maneira de ver as coisas a preto e branco que nos sessentas perguntava a muitos: Beatles ou Stones? (E porque não os dois?). Se os Oasis tinham conhecido sucesso imediato com o álbum de estreia, os Blur (formados em 1989) tinham já uma carreira em curso, respeitada na crítica, visível no mercado, mas ainda coisa de culto. Até que, a 25 de abril de 1994, o álbum Parklife tudo mudava, celebrando com hinos pop como Girls and Boys ou To The End a vida do dia a dia na forma de canções pop capazes de entusiasmar grandes plateias. O disco gerou um fenómeno, catapultou os Blur para um plano de popularidade maior (que os chegaria a incomodar) e fez de Damon Albarn, o vocalista do grupo, um ícone pop.

O tempo mostraria que Damon era mais um escritor de canções do que uma “estrela” a habitar a galáxia dos famosos. E quando os Blur entraram em modo de “pausa” (do qual já saíram para concertos, dois singles, havendo a dúvida de eventual álbum no horizonte), vimo-lo a criar com Jamie Hewlett os Gorillaz, a juntar-se a Tony Allen, Paul Simonon (ex-Clash) e Simon Tong (Verve) para formar os The Good The Bad and The Queen, a gravar discos em África e com músicos africanos e a experimentar os palcos da ópera com Monkey: Journey To The West (2008) e Dr. Dee (2012), esta última tendo conhecido gravação em disco, assinada em nome do músico.

Todavia, Everyday Robots é o primeiro álbum de estúdio a solo que Damon Albarn edita. Gravado entre 2011 e 2013, contando, entre outros músicos, com as colaborações de Brian Eno ou Natasha Khan (Bat For Lashes), é um disco musicalmente rico em acontecimentos (seguindo de resto uma maneira curiosa de estar na música que cruza a sua obra) revelando essencialmente trovas suaves e pessoais, o “eu” que é aqui o centro de gravidade das canções cedendo pontualmente protagonismo a um bebé elefante órfão que vira na Tanzânia em Mr. Tembo

O piano, mais que a guitarra, é aqui um ponto de partida, a definição de ambientes (tanto através da instrumentação como pelo trabalho vocal) mostrando um labor atento ao detalhe, que alia à construção poética das palavras e à melodia que as veicula uma noção de espaço cénico que a cada uma atribui uma paisagem, em conjunto o disco propondo uma galeria de quadros suaves e elegantes que convidam à descoberta. Longe do maior imediatismo pop dos hinos que os Blur lançaram faz hoje 20 anos, Everyday Robots é um depoimento seguro de um escritor de canções veterano, certo de que é das canções e não da fama que vive a sua música.

PS. Este texto é uma versão longa de um texto publicado na edição de 25 de abril do DN com o título 'As muitas vidas de um veterano que seguimos há 25 anos'

IndieLisboa 2014 (3)
Pelo universo da música 'chip'


Esta é uma versão acrescentada de um excerto do artigo 'A memória como matéria prima' apresentado na edição de 28 de abril do DN.

Europe in 8 Bits, de Javier Paolo Gandia é um documentário sobre a música “chip”, um fenómeno em crescimento que encontra nos velhos Game Boy, Commodore 64 ou Atari a matéria prima para uma música electrónica diferente que tanto se pode manifestar sob uma linguagem mais próxima de matrizes pop ou em caminhos mais próximos da música de dança.

Fenómeno de origem europeia, levou o realizador a descobrir músicos em vários países, traçando uma génese que remonta a tempos anteriores ao surgimento das redes sociais, um pequeno site e um primeiro evento promovido em finais dos noventas tendo materializado primeiras expressões de uma ideia que entretanto floresceu. O filme mostra-os a respigar componentes de computadores ou a manipular pequenos gadgets entre estúdios caseiros e palcos. Junta entrevistas, imagens de jogos vídeo (afinal a matéria prima de muitos destes sons) e de atuações ao vivo e em clubes, mostrando como esta música rapidamente evoluiu para lá do interesse dos que a fazem pelos jogos, as ideias partindo também de primeiras expressões de mais pura exploração dos sons para caminhos que tanto procuraram rumos de criação artística como de expressão de ideais políticos.


As histórias de um hotel com 'panache'


A expressão “formalismo” muitas vezes parece ser encarada como “palavrão”. Mas será que o é? Falo em concreto do cinema de Wes Anderson que, depois de belos ensaios de uma linguagem muito pessoal em filmes magníficos como, por exemplo, Um Peixe Fora de Água (2004) ou Darjeeling Limited (2007), achou expressão maior dessa visão no plasticamente deslumbrante Moonrise Kingdom (2012), juntando o novo Grand Budapest Hotel uma solidez narrativa ao que era já um terreno visual claramente demarcado.

É contudo pelas imagens que somos convidados a descobrir este velho hotel que mora nas montanhas de um país fictício algures na Europa central. É pelo recurso a miniaturas que descobrimos os exteriores do hotel e dos espaços ao seu redor, os planos de interiores alargando a construção de um mundo de formas e cores sem vontade em usar muito o travão, tanto no presente onde a ação é recordada (em registo de saborosa evocação das cores quentes dos setentas) como aquele em que os factos descritos decorreram, mais atrás no tempo, algures os vintes e a alvorada dos trintas, sob a evidente entrada em cena de ideologias nacionalistas e um mundo em contagem decrescente para uma guerra (que de facto eclode).

Com um elenco de luxo – onde encontramos alguns “clientes habituais” no cinema de Wes Anderson e alguns estreantes, mas numa das mais impressionantes galerias de estrelas que vimos nos últimos tempos num só filme – Grand Budapest Hotel tem a vertigem narrativa, com hilariante dose de nonsense – de um Peixe Fora de Água e o aprumo visual que Moonrise Kingdom afinou a um patamar de excelência. Conta-nos a história de um maître d'hotel que recebe uma herança de uma velha rica, junta roubos e familiares pouco interessados em ceder os bens da defunta, militares, fugas, monges, suculentos bolos de creme e um paquete que, afinal, é aquele quem no presente nos confia a história que viveu.

O exigente (e bem afinado) trabalho de art direction garante de facto ao filme uma das suas mais vivas vozes. Mas a narrativa é empolgante, apresentada a um ritmo imparável. As personagens podem ter pouco mais profundidade que a que pede o facto de muitas serem essencialmente o veículo das respetivas expressões visuais. Formalista? Sim, sem dúvida. E um belíssimo exemplo de como o formalismo pode servir o contar de uma história num grande ecrã.

PS. Nada como ter visto o filme para entender o título do post.

Em clima latino

Alguns anos antes do aprofundar (pontual) de uma relação com a cultura latina no álbum Bilingual, os Pet Shop Boys apresentaram em Domino Dancing a sua primeira incursão por esse mesmo espaço. Single editado em 1988, e depois integrado no alinhamento do álbum Introspective, Domino Dancing resultou de uma colaboração ocasional com Lewis A. Martinée, figura com ligações ao universo freestyle. O teledisco, realizado em Porto Rico por Eric Watson, reforça a alma latina desta breve aventura com sabor a verão.

domingo, abril 27, 2014

Vasco Graça Moura (1942 - 2014)

FOTO: Paulo Spranger / Global Imagens

'A questão [da identidade cultural europeia] é tanto mais complicada quanto é certo ter havido, ao longo dos milénios, e dentro do "campo europeu" (por variável que fosse a sua extensão para leste e para sudeste), fracturas e esfacelamentos escarniçados, crueldades horripilantes, comportamentos desumanos da mais variada ordem, que parecem, precisamente, pôr em causa essa identidade cultural e essa partilha de valores. O oficial nazi que, em pleno campo de concentração, toca partitas de Bach no seu violino poderia ser o símbolo de tais contradições... Não obstante, afigura-se que a identidade cultural da Europa, ao longo dos séculos, vai renascendo das próprias cinzas como a Fénix, ave mítica do seu património fabuloso, para se afirmar nas situações mais críticas como uma espécie de âncora insubstituível.'

V. G. M.
in A Identidade Cultural Europeia
(ed. Fundação Francisco Manuel dos Santos, 2013)

Poeta, escritor, presidente do conselho de administração do Centro Cultural de Belém (CCB) desde Janeiro de 2012, figura maior da história da cultura portuguesa no último meio século, Vasco Graça Moura faleceu no dia 27 de Abril no Hospital da Luz, em Lisboa, vítima de cancro — contava 72 anos.
Estreou-se na poesia em 1962, como Modo Mudando, vindo a afirmar-se também no ensaio, no romance e, por fim, na tradução de clássicos como Shakespeare (sonetos), Petrarca (As Rimas) ou Dante (A Divina Comédia). Em todo o caso, ele próprio definia a poesia como a sua "forma verbal de estar no mundo" — em 2012, publicou em dois volumes Poesia Reunida.
A sua trajectória como escritor evoluiu em paralelo com o seu trabalho político; entre as funções que desempenhou incluem-se as de presidente da RTP (1978), presidente da Comissão Executiva das Comemorações do Centenário de Fernando Pessoa (1988) e da Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses (1988-1995). Opositor veemente do Acordo Ortográfico, sobre ele escreveu A Perspectiva do Desastre (2008). Entre as muitas distinções que recebeu, incluem-se o Prémio Pessoa (1995) e o Prémio Nacional de Tradução (2007) do Ministério da Cultura italiano. Tinha sido homenageado, no passado dia 31 de Janeiro, na Fundação Calouste Gulbenkian.

>>> Rosa Nocturna, fado de Vasco Graça Moura (letra) e Mário Pacheco (música), cantado por Ana Sofia Varela.


>>> Notícia do falecimento de Vasco Graça Moura no site do CCB.
>>> Obituário no Diário de Notícias.
>>> Diário de Notícias: última crónica.

Lamentos entre ecos de um naufrágio


Um dos clássicos maiores da música experimental do século XX, The Sinking of The Titanic nasceu como primeira ideia a partir de um relato do operador de comunicações do navio, que descreveu como, estando já ele num bote salva-vidas, o ensemble de músicos que trabalhava a bordo do Titanic continuava a tocar, entre o pânico instalado entre tripulantes e passageiros que procuravam escapar com vida. Gavin Bryars (n. 1943) imaginou o que seria o som dessa música, se continuasse a reverberar nas águas mesmo depois de o mar tudo ter reclamado. No seu relato, Harold Bride (um dos sobreviventes do naufrágio), especificava que escutara os músicos a interpretar Autumn, não se sabendo ainda hoje ao certo a que composição se referiria em concreto (havendo suposições em função do gosto e das peças da época). Em The Sinking of The Titanic Gavin Bryars junta um trabalho de construção de texturas e acontecimentos sonoros que suportam a evolução de uma trama narrativa, sobre a qual vozes que descrevem memórias juntam uma dimensão vivencial aos acontecimentos e, a dada altura, se escuta uma ideia do que Autumn poderia ter sido. Sequência de profunda melancolida desenhada por cordas que adivinham um fim próximo, esse acaba por ser o núcleo emocional mais vibrante de uma obra que ordena narrativamente os acontecimentos, do caminhar tranquilo nas águas antes do acidente (essencialmente sugerido pelo trabalho de texturas) ao lamento que chega depois da tragédia, as águas ecoando assim a música que ali se escutava e, agora, mergulha no oceano, alargando a paleta de instrumentos que assim sugerem o tal reverberar das memórias dos sons nas águas que esteve na origem da ideia desta obra.

Composto entre 1969 e 1972, The Sinking of The Titanic teve nas suas primeiras interpretações ao vivo as participações de músicos como Michael Nyman, Kate St John ou Brian Eno e conheceu primeira gravação em disco em 1975 na Obscure Records, deste último (registo que este ano terá reedição em CD). Houve gravações posteriores, uma delas nos anos 90 na Point Music (coordenada opr Philip Glass), numa outra ocasião surgindo uma visão remisturada por Aphex Twin. Em 2012 Gavin Bryars levou esta obra em digressão com um conjunto de músicos que incluía a presença de um DJ (a quem era dado espaço livre para a improvisação nos momentos de criação de texturas e cenografias), dois quartetos de cordas nada canónicos (num dos quais o próprio Bryars tomava o seu lugar no contrabaixo), um clarinetista, um trompista (que dividia tarefas com o trabalho de percussão). Obra em aberto e com algum espaço para liberdade, a cada novo registo foi conhecendo novos pontos de vista e assimilação das ideias dos que a interpretaram. Lamento por figuras de uma tragédia que não desistiram do seu amor à música até ao último momento, The Sinking of The Titanic tem nesta gravação aquilo que o próprio Bryars descreveu já como a versão definitiva da obra. Se assim é convenhamos que esta gravação ao vivo a deixa muito bem servida.

IndieLisboa 2014 (2):
Para desafiar o realismo

Esta é uma versão alterada de um texto que foi publicado na edição de 26 de abril do DN com o título 'Desafiar as fronteiras do realismo'.

Uma ficção que não esconde um olhar atento que nos aproxima do registo documental surge como um dos primeiros grandes motivos de interesse da Competição Internacional do 11º IndieLisboa. Trata-se de Mouton, primeira longa-metragem de Marianne Pistone (n. 1976) e Gilles Deroo (n. 1969) (repete amanhã na sala 3 do mesmo cinema). Marianne e Gilles, que vivem e trabalham em Lille, conheceram-se numa associação ligada ao cinema documental e encararam este projeto como uma incursão criativa nos domínios da ficção, apresentando-nos um filme que explora a ideia do acaso como gatilho narrativo.

O filme acompanha, pela presença e depois pela ausência, a figura de Mouton, o nome (alcunha) pelo qual é tratado Aurélien, um jovem de 17 anos que é retirado à custódia da mãe e que encontra novas rotinas de vida como aprendiz na cozinha de um restaurante na pequena cidade de Courselles-Sur-Mer, na Normandia. Mouton acompanha o seu dia-a-dia no trabalho, entre amigos e namorada, até ao momento em que, numa noite de festa na cidade, um acontecimento inesperado (e traumático), fruto de um mero acaso, o leva a procurar outro lugar para viver. A segunda parte do filme acompanha aqueles que ali continuam a fazer os seus dias, a presença do protagonista manifestando-se então pela sua ausência. Optando muitas vezes por planos fixos, ocasionalmente levando a câmara na mão, ‘Mouton’ observa os lugares e as rotinas em que caminha a vida de Mouton com uma curiosidade documental (que se vinca, por exemplo, pelo trabalho de luz). Sem pressa, a câmara acompanha e partilha connosco as cadências do real, deixando claro que o olhar que nos propõe rompe a lógica e ritmos da linguagem da televisão e da Internet. O tempo, aqui, respira.

Estamos contudo num terreno em que o documentarismo habita sobretudo o modo de olhar. A mise en scène é cuidada (o que fica logo claro na sequência de abertura) e os enquadramentos são refletidos, sublinhando assim o tom poético que o filme acaba por sugerir, o facto de haver mais palavras ocasionais que diálogos com implicações narrativas acentuando uma proposta que vive mais de um conjunto de sensações que de precisas informações.

A noção de barreiras entre géneros e formas tem vindo a desaparecer em muita da criação artística do nosso tempo. Na música esta ideia tem sido marcante em muitas das criações dos últimos 30 anos, entre trabalhos de nomes como Philip Glass ou Nico Mulhy tendo-se, por exemplo, esbatido as noções de fronteira entre pop e clássica, o álbum Screamadelica dos Primal Scream (álbum de 1991) evidenciando, por sua vez, como o que é do foro da pop e o que chegava do universo da chamada música de dança viviam juntos tal e qual a Berlim recentemente reunida após a queda do muro. No cinema, e falando em concreto desta diluição de fronteiras entre a ficção e o documentário, podemos apontar como exemplo os recentes e magníficos A Última Vez Que Vi Macau, de João Pedro Rodrigues e João Rui Guerra da Mata ou Lacrau de João Vladimiro (que foi uma das melhores surpresas da edição do ano passado do IndieLisboa) e que merecia uma vida mais visível nas nossas salas de cinema.




David Bowie a 45 RPM (58)


Em setembro de 1981 uma série de temas da primeira etapa da discografia de David Bowie conheceram edição num EP que em alguns territórios seria lançado no pouco habitual formato de dez polegadas. Sob o título Don’t Be Fooled By The Name, este EP junta canções anteriores ao álbum de estreia (de 1967), juntando assim as gravações que, no formato de single, Bowie tinha regitado para a PYE Records em 1966, ora a solo ora ainda acompanhado pelos Lower Third. A capa mostra todavia uma imagem captada na então relativamente recente Isolar Tour, o que pode gerar alguma confusão quanto ao conteúdo mais “de arquivo” deste disco.

À velocidade de um Dodge

A marca de automóveis Dodge está a comemorar cem anos de existência. E com este anúncio, dirigido por Samuel Bayer, as comemorações da data arriscam num tom politicamente (ou, pelo menos, automobilisticamente) incorrecto — não apenas através da sugestão de velocidade, mas sobretudo porque a juventude tradicionalmente associada às respectivas proezas ficou de fora... Resultado paradoxal: uma bela lição de pedagogia existencial.

sábado, abril 26, 2014

A IMAGEM: Cecil Beaton, 1946

CECIL BEATON
Greta Garbo
1946

Beyoncé no labirinto da beleza


Pretty hurts, we shine the light on whatever's worst
Perfection is a disease of a nation, pretty hurts, pretty hurts (...)

Em número duplo, com data de 5/12 de Maio, a revista Time volta a propor a sua lista das "100 pessoas mais influentes no mundo". Na capa está Beyoncé que, através do site da revista, divulga o novo teledisco do tema Pretty Hurts — um magnífico exercício, ao mesmo tempo exuberante e distante, sobre a beleza, seu labirinto e contradições. A realização é de Melina Matsoukas, com Harvey Keitel num pequeno papel.


>>> Site oficial de Beyoncé.

30 anos depois:
Duran Duran, The Reflex


Passaram esta semana 30 anos sobre o lançamento de The Reflex, o terceiro single extraído do alinhamento de Seven and The Ragged Tiger, álbum dos Duran Duran editado em finais de 1983. A canção, que vive em grande parte da eficácia de um sim “steel drum” criado por Nick Rhodes num sintetizador Roland Jupiter-8 foi remisturada por Nile Rodgers para a versão apresentada no single (consideravelmente diferente da que escutamos no álbum), aproximando-a dos espaços da pista de dança. The Reflex deu aos Duran Duran o seu segundo número um no Reino Unido e o primeiro nos EUA e transformou-se num dos maiores êxitos da sua discografia. O bom entendimento com Nile Rodgers abriu espaços a parcerias posteriores com o músico, assim como com o também ex-Chic Bernard Edwards, como se escutaria mais tarde no single The Wild Boys (também de 1984) ou no álbum Notorious (1986).

O teledisco de The Reflex foi assinado por Russel Mulcahy, cruzando imagens de palco (registadas numa tarde, com sala vazia) com outras, de público (captadas nessa mesma noite, durante um concerto da Sing Blue Silver Tour).

Podem ver o teledisco aqui.

IndieLisboa 2014 (1):
Um novo retrato do Egito


Não é preciso termos alguém de guitarra em punho e um microfone pela frente para se falar da relação da música com o mundo político. E nem toda a música que reflete um contexto político é necessariamente de “intervenção” (no sentido em que a história da canção “política” portuguesa integrarou este termo no nosso léxico), sendo que porém é algo que intervém na sociedade, assim refletindo o que ocorre à sua volta e, eventualmente, ajudando-a a mudar. Podemos mesmo dizer: a evoluir. Tudo isto para falar de Electro Chaabi, documentário de Hind Meddeb que passou ontem no Cinema São Jorge integrado na secção Indie Music desta 11ª edição do IndieLisboa (repete dia 3, naquele mesmo cinema, pelas 21.30) e que nos leva a um Egito atual, escutando espaços associados a um fenómeno musical que, de certa forma, nos concede também um retrato de um país em mudança depois dos efeitos da “revolução” que levou, uma certa “Primavera” para aqueles lados (não que esteja tudo resolvido como os mais esperançosos de ainda mais evidentes mudanças eventualmente aguardassem).

Convém começar por lembrar que, no mundo árabe, o Egito sempre foi uma das maiores capitais de acontecimentos musicais, lançando carreiras de enorme impacte local e nos países ao seu redor. O filme lança-nos contudo num mundo bem diferente do que se faz entre estúdios de gravação, discos, palcos e programas de rádio. Estamos na rua, acompanhando um movimento (designado como música 'mahragan', expressão que traduz a ideia de festival) que nasce da assimilação de ecos da cultura hip hop, utiliza novas tecnologias ao serviço da criação de som (dos computadores e sintetizadores às mesas de mistura de DJs), a cruza com uma forma realista de observar o quotidiano ao seu redor e, depois de nascer entre festas e casamentos, gera fenómenos de maior amplitude, chamando multidões à rua para escutar, cantar e dançar (mostrando as imagens a separação “cultural” de sexos, com o grosso da festa sendo mais intensamente vivido no masculino.

A realizadora, que viveu a juventude entre a França e o Magerbe, e trabalha como repórter para uma revista, partiu para Cairo e, entre bairros mais carenciados, começou a descobrir um mundo de músicos, entre DJs e MCs encontrando sinais de uma consciência crítica dos ecos da revolução. As suas músicas falam do presente, comentam e debatem ideias, apelando aos que escutam e assim partilham palavras que se transformam em hinos que todavia estimulam inevitavelmente a festa e a dança. A câmara observa as ruas onde moram as casas dos músicos que visita (dando-nos a conhecer os seus espaços de vida e trabalho), as mesmas que de noite se enchem para celebrar, muitas vezes com músicos e luzes instalados em telhados, lá em baixo a multidão aderindo, fazendo desta, afinal, uma música do seu tempo. As palavras são simples e claras, não temem autoridades nem hierarquias. E ao comentar e ser fruto de um tempo político diferente (fala-se de Mubarak, vemos cartazes com o rosto de Morsi, comentam-se cenários de uma eventual rotulagem desta música como “blasfema” pela Irmandade Muçulmana), Electro Chaabi é, afinal, um belíssimo filme sobre o Egito pós-Tahir.

David Bowie a 45 RPM (57)


Em finais de 1981, para promover a edição da antologia ChangesTwoBowie, a RCA regressou ao alinhamento do álbum de 1976 Station To Station e editou, no formato de single a canção Wild Is The Wind. Assinada por Dimitri Tiomkin (um dos grandes compositores ao serviço da história do cinema) e Ned Washington, e originalmente cantada por Johnny Mathis na banda sonora do filme homónimo de George Cuckor, a canção tem em Bowie uma versão notável. No lado B surgiu o tema Golden Years.

sexta-feira, abril 25, 2014

3 imagens para o 25 de Abril (3)


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> France Tour Détour Deux Enfants (1977), de Jean-Luc Godard — Pergunta o ecrã: "Quando a esquerda tiver o poder, será que a televisão continuará a ter uma tão escassa relação com as pessoas?" É uma interrogação que vem de tempos ainda marcados por muitas convulsões pós-Maio 68, incluindo os anos de 1974/75 em Portugal — as direitas, obviamente, não a enfrentam; as esquerdas, tragicamente, optam pela demissão crítica e fingem que a televisão não existe, alimentando o nosso apoteótico desconhecimento do tempo em que vivemos.

Nels Cline — sob o signo de Miles

Mais conhecido como guitarrista da banda Wilco, o americano Nels Cline (n. 1956, Los Angeles) é um símbolo exemplar de uma versatilidade ancorada numa continuada alegria experimental. Uma das suas vias criativas é o conjunto que dá pelo nome de The Nels Cline Singers, ensemble jazzístico que, apesar do nome, tem a particularidade de não incluir... cantores. Algures numa paisagem rasgada pelas experiências electrónicas dos anos 70 de Miles Davis, a banda tem um novo álbum intitulado Macroscope — eis o tema Hairy Mother, em concerto, em Oakland, a 24 de Janeiro de 2013.