The Blue Nile
“Peace At Last”
Warner Bros
3 / 5
Não é certamente fácil criar um sucessor para aqueles discos que o tempo regista como maiores e que acolhem variadas aclamações como obra-prima. Editado em 1989, Hats, dos Blue Nile, é um daqueles discos que moram, de pedra e cal, na lista do que de melhor escutámos nos anos 80, a sua coleção de canções para melancolia e eletrónicas tendo cativado entusiasmos não só entre a crítica e os consumidores de música, acolhendo o aplauso de figuras de relevo na música, de Rickie Lee Jones a Annie Lennox, a primeira convidando-os para a sua digressão de então, a segunda cantando-os. Passaram sete anos até que os pudéssemos reencontrar. Mas em Peace at Last a música seguia outros caminhos num alinhamento onde a voz de Paul Buchanan conhecia principal interlocutor no som da guitarra acústica, só na reta final do alinhamento emergindo ecos das cenografias mais intensas de Hats (como se escuta em War Is Love ou Soon), cabendo contudo a Family Life, onde o piano fala mais alto, o melhor instante de todo o disco. As trovas pessoais, sobre vida doméstica, com assinatura de Buchanan, porém de colheita menos iluminada, conhecem aqui orquestrações (ou com teclas ou mesmo com cordas) por Craig Armstrong e chamam a colaboração de Calum Malcolm (tanto nas teclas como enquanto engenheiro de som), abrindo espaço à presença de um coro de gospel em Happiness, um dos temas extraídos em formato de single. Tal como aconteceu com os dois álbuns anteriores, este terceiro registo de estúdio dos Blue Nile apresenta-se com som remasterizado e com um segundo disco com remisturas e temas extra onde, dada a mais evidente concentração de trabalho com eletrónicas na linha da obra do grupo nos oitentas, acaba por trazer algumas das mais saborosas presenças deste novo conjunto. Mesmo assim pouco mais haverá aqui que material para aficionados.