quarta-feira, março 19, 2014

Novas edições:
Trust, Joyland

Trust
“Joyland” 
Arts & Craft Records
2 / 5 

O mundo dos vídeo jogos começa a ter uma expressão maior em muita da produção de sons e imagens do nosso tempo. Afinal é uma realidade cultural que atravessa já mais de uma geração e, assimilada que está, alimenta hoje a imaginação como tantas outras referências formadoras. O canadiano Robert Alfons, que passou a encarar o projeto Trust como aventura a solo após o afastamento de Maya Postepski (Austra) pouco depois do lançamento do álbum de estreia TRST (em 2012), revelou que o universo dos jogos vídeo estava entre as matérias primas que o inspiraram para criar Joyland (e basta olharmos para a capa do disco, que desperta memórias do Tron original) para reconhecer que a ideia não se esgota assim na música. Caminhando depois pela face áudio do disco (e afinal é o que interessa), a verdade é que estrutural e sonicamente não são muitas as diferenças que aqui se manifestam face ao que o álbum de há dois anos manifestava. Dominado pelas eletrónicas e pensado num quadro de identidade assombrada (algures nas periferias de heranças do gótico das primeiras gerações), Joyland concilia o gosto pelo formato da canção e um evidente entusiasmo pelo labor dos ritmos com um foco cénico escuro e tenso, que brilha contudo quando as frestas de uma alma pop emergem em Are We Arc?, o grande momento do disco (mas, infelizmente, espaço de exceção num alinhamento que não repete este instante nas outras faixas). O trabalho vocal acentua o dramatismo que as opções de sonoridade sugerem. Porém, ao invés de outros exemplos recentes de novas eletrónicas mais assombradas made in Canadá (de Grimes a Austra) aqui há por vezes mais uma concentração de maneirismos sónicos (muitos deles a piscar olho à memória dos sons dos melhores dias dos Depeche Mode nos oitentas) que grandes ideias de composição. Joyland vale assim mais como uma experiência de sons e ambientes que como coleção de canções. Mas Are We Arc? mostra onde Robert pode chegar se resolver focar as atenções noutros objetivos.